Soares explica que falou em violência “para a prevenir e evitar”

Mário Soares sustenta, num artigo de opinião publicado esta terça-feira pelo Diário de Notícias, que “odeia a violência” e que, se falou no assunto, foi “para prevenir e evitar”. Segundo o antigo Chefe de Estado, que insiste que o atual Presidente da República deve demitir o Governo, “por muito que lhe custe”, o que se passou na Aula Magna “foi uma sessão de patriotismo e pelo amor a Portugal”.

RTP /
Mário Soares recorda que no mesmo dia em que discursava na Aula Magna “polícias invadiram a escadaria do Parlamento" João Relvas, Lusa

“Ao contrário do que alguns especuladores da comunicação social ao serviço do Governo têm vindo a dizer, eu odeio a violência. Se falei em violência foi para prevenir as pessoas e para a evitar. Sempre fui pacifista e contrário à violência”, afirma o Mário Soares no artigo de opinião que assina no Diário de Notícias.

“Mas quem não sente o que se tem passado? Quem não percebe que paira em Portugal um profundíssimo descontentamento contra o atual Governo e contra o próprio Presidente da República? “, questiona o fundador do PS. Para acrescentar: “Têm sido muito vaiados. Não falam com o povo e não saem à rua sem muita segurança e as pessoas não os interessam”.

“Ao contrário de outras vezes, eu não iniciei a abertura da sessão de improviso e sem papel, como é habitual. Desta vez, li um texto escrito. Que está ao dispor de quem o quiser ler. E porquê? Porque sabia que ao falar de violência os comentadores ao serviço do poder iam necessariamente especular. Como fez o sempre infeliz vice-primeiro-ministro Paulo Portas, que muda de ideias como quem muda de camisas e que todos sabemos o que tem feito e refeito. Um artista…”, escreve o antigo Presidente da República.
“Ainda na Aula Magna”
No mesmo artigo de opinião, intitulado “Ainda na Aula Magna”, Soares cita as palavras que leu na passada quinta-feira na abertura da conferência “Em defesa da Constituição, da Democracia e do Estado social”: “É preciso ter em consciência que a violência está à porta. Ora é isso que é necessário evitar”.

Segundo o antigo Chefe de Estado, “quem disser o contrário mente, conscientemente. Foi por ter adivinhado o que os comentadores de serviço iriam especular, quendo falei em violência, que li e escrevi o texto. E mais não digo. Não é preciso para convencer as pessoas de bom senso. Quanto às outras, ao serviço do poder, para ganhar dinheiro, não vale sequer perder tempo”.

Para Mário Soares, “o que se passou na Aula Magna foi uma sessão singular pelo patriotismo e pelo amor a Portugal. Foi da Pátria que se falou e do descalabro que o Governo a tem conduzido – e continua -, vendendo o nosso patriotismo histórico a qualquer preço”.

“Não se discutiram os partidos nem as ideologias. Foram patriotas de todas as tendências que ali estiveram e a entrada era livre. Foram protestar contra o empobrecimento de milhões de pessoas que estão desesperadas, sem poder dar de comer aos filhos, e tantos a emigrar sem o desejar, e até a suicidar-se ou a entrar na criminalidade”, sublinha.

No texto, Mário Soares lembra que no mesmo dia em que discursava na Aula Magna “polícias invadiram a escadaria do Parlamento com o apoio e os abraços dos outros polícias que deviam impedir a entrada dos manifestantes”.

“É significativo! Como foi a decisão das universidades e, logo depois, dos institutos politécnicos, que cortaram relações com o Governo. Bem como os militares ilustres que estiveram na Aula Magna”.
Apelo à demissão do Governo
Mário Soares volta à carga e lança o repto ao Presidente da República para que demita o Governo que, considera, “tem sido e será a desgraça dos portugueses”: “Por muito que lhe custe”.

“Ninguém ignora o desastre imenso que este Governo trouxe ao país em escassos dois anos e pouco. Julgará o senhor Presidente da República que bastará dar um passo positivo, mandando para o Tribunal Constitucional a convergência de pensões, para que fique popular? Continuando a proteger, contra a Constituição, o seu próprio partido e o seu aliado CDS-PP? Não é. Se voltar a defender o seu partido, como o tem feito até agora, terá de novo – como disse um seu amigo – ‘o caldo entornado’”, frisa.

Ainda segundo Soares, “é preciso demitir o seu Governo, por muito que lhe custe. Avançar com um governo de salvação nacional, como surgiu Silva Peneda, aliás seu amigo, ou qualquer outro independente sério e competente. As alternativas existem e são mais do que sugere a comunicação social. Não tem razão, portanto, para teimar em só ver e agradar contra a Constituição, repito o seu próprio partido”.

“Não basta um pequeno gesto feito, ao que parece, para acalmar o que se passou na Aula Magna. É indispensável demitir o Governo para evitar a violência”, insiste Mário Soares.

“Senhor Presidente da República, creia que não tem outra saída: demita este Governo. Não diga que o Governo é legítimo, porque não é. Tem sido a desgraça dos portugueses. Um Governo completamente paralisado, sem rumo – e ainda por cima ultra-despesista – que diz que a Constituição, que jurou, é um bocado de papel que não dá de comer a ninguém”.

“Senhor Presidente da República, não pense que um pequeno gesto o fará popular aos olhos do povo. Só demitindo o Governo poderá conseguir que isso suceda. E assim impeça, como desejo, que a violência venha aí. Reflita nisso! A sua responsabilidade é imensa e, quanto a mim, o que quero, no fim da vida, é tão-só evitar a violência”, insiste Mário Soares.
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