Socialistas ganham autárquicas mas perdem capital

por RTP
António Cotrim - Lusa

O PS registou uma vitória global, feita a contabilidade geral por todo o continente e ilhas, mas é uma vitória que perde brilho face aos triunfos do PSD em grandes capitais, com destaque para Lisboa, Coimbra ou Funchal. Durante horas, o sucesso dos socialistas esteve nas mãos de Fernando Medina, que tinha do outro lado Carlos Moedas como um improvável vencedor. São contas que ultrapassam a questão autárquica e se abrem a uma leitura dos próprios partidos.

António Costa, secretário-geral do PS e primeiro-ministro, numa declaração ao início da madrugada, ainda antes da confirmação da vitória de Carlos Moedas, desvalorizou as derrotas do PS, que atribuía à própria natureza de um acto eleitoral, sublinhando que o PS era ainda o maior partido a nível autárquico.

Admitindo que uma “derrota em Lisboa é uma derrota que penaliza qualquer partido”, António Costa considerou, no entanto, que após vários anos de governação, “os portugueses renovaram a sua confiança no partido socialista”.Câmaras: PS com 149, PSD 114, CDU 19, Independentes 20 e CDS-PP 6.

Do outro lado da barricada, o líder do PSD enfrentava o derradeiro teste da sua liderança. Rui Rio tinha nestas autárquicas uma verdadeira prova de fogo. Com vários nomes a avançarem já para o desafio à liderança, Rio chega ao fim da noite eleitoral com um novo fôlego, dizendo que o PSD – logo, ele próprio – e conseguiu tudo a que se tinha proposto "contras as sondagens e contra os comentadores".

O PSD e Rio ganham Lisboa, com a coligação “Novos Tempos” (PSD/CDS-PP/MPT/PPM/Aliança), mas também Coimbra e Funchal, capitais de distrito roubadas ao PS, o que concede ao líder um balão de oxigénio até às próximas eleições.
PS tem 10 câmaras em Lisboa mas direita conquista capital

O PS continua a ser o partido com mais câmaras no distrito de Lisboa. Elegeu 10 dos 16 presidentes nas eleições de domingo, mas perdeu para a coligação encabeçada por Moedas a capital que governava há 14 anos consecutivos.

Com o registo da conquista de Loures à CDU (PCP/PEV), os socialistas mantêm ainda nove municípios de Lisboa: Alenquer, Amadora, Arruda dos Vinhos, Azambuja, Sintra, Torres Vedras, Vila Franca de Xira, Lourinhã e Odivelas. Em seis destas câmaras, o PS teve maioria absoluta (Alenquer, Azambuja, Arruda dos Vinhos, Torres Vedras, Lourinhã e Odivelas).

Em Sintra, onde Basílio Horta foi eleito para mais um mandato, o PS perdeu a maioria que tinha no executivo, ao conseguir cinco mandatos dos 11 possíveis.

A coligação PSD/CDS-PP/Aliança/MPT/PPM obteve quatro mandatos em Sintra, o Chega - que se estreou no domingo em autárquicas - conseguiu um mandato e a CDU outro.

Já o PSD elegeu quatro presidentes de câmara no distrito de Lisboa, dois deles em coligações com outros partidos. Foi o caso de Lisboa, onde Carlos Moedas foi eleito numa coligação que juntou PSD, CDS-PP, Aliança, MPT e PPM, e de Carlos Carreiras (PSD/CDS-PP), que conquistou o seu terceiro mandato em Cascais. Em Lisboa, Moedas obteve sete mandatos, o mesmo número que o PS.

Carlos Moedas foi eleito presidente da Câmara de Lisboa com 34,25% dos votos, contra 33,30% de Fernando Medina, numa diferença de cerca de 2.300 votos entre os dois.

Para o executivo da cidade de Lisboa entraram também dois vereadores da CDU e um do Bloco de Esquerda, tal como aconteceu em 2017.

A CDU passou a ter apenas uma câmara no distrito de Lisboa, Sobral de Monte Agraço. Os comunistas perderam Loures, onde se recandidatou Bernardino Soares, mas obtiveram o mesmo número de mandatos do PS (quatro cada). O PSD ficou com dois mandatos neste concelho e o Chega conquistou aqui um vereador.

Como em 2017, em Oeiras voltou a vencer, com maioria absoluta, um movimento de independentes liderado por Isaltino Morais, antigo autarca e ministro do PSD, que conseguiu 50,86% dos votos, correspondentes a oito mandatos, mais dois do que os que já tinha.
Moreira volta a ganhar Porto, BE estreia-se
Sem maioria no executivo, o independente Rui Moreira foi reeleito este domingo presidente da Câmara do Porto. O BE elegeu um vereador pela primeira vez, enquanto o PS perdeu um e o PSD duplicou o mandato de 2017.

Com as sete freguesias apuradas, o movimento independente Rui Moreira: Aqui Há Porto! obteve, segundo os dados divulgados pelo Ministério da Administração Interna (MAI), 40,72% dos votos, elegendo seis vereadores, não tendo conseguido reeditar a maioria absoluta conquistada nas autárquicas de 2017.

Em declarações aos jornalistas quando ainda estavam por apurar duas das sete freguesias do concelho, Rui Moreira garantiu que a governação da cidade estava assegurada, mas não fechou a porta a eventuais coligações: "Aquilo que temos de avaliar é se valerá a pena tentarmos governar sozinhos, ou se haverá condições para chegar a acordo com alguma das forças políticas. Não sei dizer. Aliás, acho que elas também não sabem", declarou na altura.

Já com os resultados das freguesias apurados, o BE congratulou-se com a eleição do primeiro vereador na Câmara do Porto, assinalando que tal "se deve" ao partido.

"(É) também o fim do reinado do rei Moreira e da sua `Via Verde´ no executivo municipal. Queria dizer a Rui Moreira uma coisa importante, que afinal o improvável acontece", atirou o cabeça de lista do BE, Sérgio Aires.

Nas eleições deste domingo, o BE que até então tinha apenas representação na assembleia municipal e juntas de freguesia, conquistou 6,25% dos votos, elegendo pela primeira vez um vereador.

Por oposição, o PS perde um mandato comparativamente às eleições de 2017, ao conseguir este domingo 18,02% dos votos, elegendo três vereadores para o executivo.

Em reação aos resultados ainda não consolidados, Tiago Barbosa Ribeiro afirmou que o PS sai como o "maior partido" da cidade, mantendo o segundo lugar nas eleições.

"Só tenho uma palavra. As questões de governabilidade na Câmara do Porto não se colocam", afirmou o socialista, garantindo que continuará a não aceitar nenhuma aliança.

Contrariamente ao PS, o PSD duplicou o número de mandatos, elegendo mais um do que em 2017. O social-democrata Vladimiro Feliz - que conquistou 17,25% dos votos, elegeu dois vereadores - assumiu, contudo, que "os resultados deste domingo não foram os ambicionados", sublinhando que, embora o independente Rui Moreira tenha sido reeleito, falhou o objetivo de ter maioria.

A cabeça de lista da CDU Ilda Figueiredo confirmou também a reeleição, adiantando ter obtido uma subida na votação e de representatividade nas freguesias: "A luta vai continuar, provavelmente em melhores condições para defender os interesses e os direitos dos moradores e o desenvolvimento da cidade do Porto, uma cidade progressista, mais justa, solidária". Com 7,51% dos votos, Ilda Figueiredo mantém o seu lugar na vereação.
Comunistas perdem bastiões
Sete câmaras municipais trocaram de partido no domingo pela primeira vez desde 1976, mas há 24 que se mantêm fiéis à mesma cor política desde as primeiras eleições autárquicas democráticas.

Três dos tradicionais bastiões da CDU passaram no domingo a ser socialistas. Além destas três, o PS roubou duas autarquias que sempre tinham sido sociais-democratas e o PSD tirou outras duas que nunca tinham deixado de ser socialistas.

O PS ganhou, com maioria absoluta, nos municípios de Penela (Coimbra) e de Ferreira do Zêzere (Santarém), colocando um ponto final a 45 anos de governação ininterrupta do PSD.

Por outro lado, os socialistas perderam para o PSD Reguengos de Monsaraz (Évora) e o Cartaxo (Santarém), dois municípios onde os social-democratas ganharam no domingo com maioria absoluta.

Em Mora, um bastião comunista em Évora desde 1976, o PS venceu domingo com maioria absoluta.

Os socialistas roubaram também aos comunistas os municípios da Moita e de Montemor-o-Novo, mas sem terem obtido maioria absoluta.

Aliás, em Montemor-o-Novo, o PS ganhou e obteve três vereadores, o mesmo número do que os da CDU (a que se soma um do CDS-PP).

Na Moita, apesar da vitória socialista, PS e CDU têm quatro vereadores cada (tendo sido eleito um outro vereador do Chega).

São, desde domingo, apenas 24 as câmaras municipais que sempre foram fiéis ao mesmo partido: nove do PSD, outras nove do PS e seis da CDU.

Mantêm-se social-democratas desde 1976 os municípios de Arcos de Valdevez, Boticas, Valpaços, Penedono, Oleiros, Santa Maria da Feira, Mação, Calheta e Câmara de Lobos, câmaras onde o PSD obteve maiorias no domingo.

O PS manteve o pleno em todas as autárquicas em Portimão, Olhão, Campo Maior, Gavião, Alenquer, Torres Vedras, Odivelas, Lourinhã e Condeixa-a-Nova, onde também obteve maioria absoluta em 2021.

Mantém-se CDU desde sempre Avis, Arraiolos, Seixal, Palmela, Santiago do Cacém e Serpa.

Se Avis, Arraiolos, Santiago do Cacém e Serpa são bastiões onde a CDU ganhou com maioria absoluta, já no Seixal e em Palmela a vitória foi mais tremida e será mais difícil aos comunistas governar.

No Seixal, a CDU obteve cinco mandatos, contra quatro do PS, um do PSD e outro do Chega, enquanto em Palmela os resultados apontam para quatro mandatos da CDU, para três do PS, um do PSD e outro do Movimento de Cidadãos pelo Concelho de Palmela (MCCP), do antigo presidente das Câmaras de Palmela e de Setúbal e ex-comunista Carlos Sousa.
Independentes vencem em 19 concelhos, mais três do que 2017
As candidaturas independentes conquistaram no domingo pelo menos 19 câmaras municipais (nove das quais com maioria absoluta), mais três do que em 2017, com um total de 274.389 votos, de acordo com os dados do Ministro da Administração Interna.

As câmaras do Porto (Rui Moreira), de Oeiras (Isaltino Morais), da Figueira da Foz (Pedro Santana Lopes) e de Elvas (José António Rondão Almeida) foram algumas autarquias ganhas por estes candidatos independente, inclusive a partidos como PS, PSD ou CDU.

Os dados reportam-se ao momento em que estavam apurados 99,58% dos votos no país, dando também conta da eleição de 132 mandatos no total das câmaras municipais.

Segundo a Comissão Nacional de Eleições, terão sido apresentadas cerca de 1.035 listas de grupos de cidadãos eleitores (GCE), número semelhante ao de 2017, quando se apresentaram 948 listas às freguesias e mais 93 às câmaras.


c/ Lusa
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