Socialistas têm abertura à esquerda para coligações nas autarquias

Depois da meia resposta do PCP ao repto socialista de uma concertação à esquerda na abordagem das eleições para algumas câmaras do país, o BE entreabriu a porta - com os mesmos cuidados – a eventuais coligações com o PS. A carta terá partido do Rato na segunda-feira, mas PCP e BE garantem que não a receberam ainda. Os dois partidos que se sentam mais à esquerda no hemiciclo transmitiram para já as mesmas exigências: uma resposta só com propostas concretas.

RTP /
Paulo Novais, Lusa

Apesar de terem em mente candidaturas com “listas próprias na esmagadora maioria dos 308 concelhos”, os socialistas pretendem desenhar uma estratégia com vista a “permitir a afirmação de alternativas progressistas, com particular incidência nos concelhos governados pela direita ou onde esta, através do PSD e do CDS/PP, se apresenta em coligação”. Garantindo abertura para "examinar com forças, setores e personalidades democráticas a construção de uma política alternativa", o PCP não deixa de acusar os socialistas de cumplicidade "com os eixos essenciais da atual política" e de terem intenção de "manter vivo um Governo politicamente moribundo por mero cálculo partidário".

Os portugueses exigem para já "a interrupção da ação do Governo e a rejeição do chamado memorando de entendimento", aponta o PCP.


De acordo com o dirigente nacional dos socialistas, Miguel Laranjeiro, autor da missiva remetida à esquerda, o Porto e o Funchal são duas das câmaras que cabem nesta estratégia virada para “concelhos onde o interesse das populações” justifica uma coligação de esquerda.

O primeiro partido a responder ao PS foi o PCP, que remeteu uma reacção mais consistente do partido para a recepção de propostas concretas do Partido Socialista.

Para já , não fechando completamente a porta a um entendimento, o PCP não pôde deixar de classificar a iniciativa de propaganda, já que, afirmava ao final da manhã em comunicado, o partido apenas sabia da missiva pelo que lhe chegara através dos media.

Trata-se, para já, “uma iniciativa sustentada não em critérios de seriedade, mas sim movida por meros propósitos de propaganda”. Apesar desta nota crítica, o PCP diz estar “inteiramente disponível para debater e confrontar o PS com aquilo que são os eixos essenciais de uma política que corresponda a uma verdadeira rutura com a política de direita”.

Um debate que os comunistas esperam que conduza à “libertação do país do programa de submissão e exploração subscrito com a União Europeia e o FMI”.
Bloco dá o sim mas lamenta “timing” da proposta
“Eu não antecipo nenhuma resposta àquilo que não conheço, o PS pede-nos uma reunião, a reunião realizar-se-á em função da nossa agenda política e nessa altura veremos quais são as propostas”.

O Bloco “é conhecido por não fechar a porta às forças democráticas e de esquerda”.

João Semedo
As mesmas exigências de um documento concreto foram, já da parte da tarde, consignadas pelo Bloco de Esquerda. Falando aos jornalistas a partir de Aveiro, onde o Bloco está reunido em Jornadas Parlamentares, João Semedo deu o sim do partido para uma reunião com vista a colocar as cartas na mesa.

“Nós temos uma linha de orientação que foi aprovada na última Convenção, mas eu não quero antecipar nenhuma resposta porque não sei exatamente quais são as propostas do PS”, declarou o coordenador bloquista, avançando o sinal verde para uma reunião com responsáveis socialistas que possam discutir ligações concretas para as próximas eleições autárquicas.

“Como todos estamos lembrados, o BE propôs à direção do PS uma reunião, essa reunião realizou-se em dezembro, este pedido agora formulado pela direção de António José Seguro é um pedido tardio mas ainda assim não deixaremos de responder”, acrescentou João Semedo.
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