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Tancos: Relatório dos serviços de informações militares critica atuação do ministro

por RTP
Nacho Doce - Reuters

O documento a que o semanário Expresso teve acesso considera que a ação do ministro da Defesa no caso de roubo de material militar de Tancos foi de "ligeireza, quase imprudente".

O relatório secreto dos serviços de informações militares arrasa a atuação do poder político e militar no caso do desaparecimento de armas em Tancos, a 29 de junho.  

Se a atuação do ministro Azeredo Lopes é criticada em toda a linha, por “declarações arriscadas de intenções duvidosas” e uma atitude de “arrogância cínica” na condução do processo, em relação ao chefe do Estado-Maior do Exército, o relatório diz que General Rovisco Duarte assumiu a responsabilidade mas "não terá tirado consequências". 


Três cenários "muito prováveis"
O documento foi elaborado em julho, um mês depois do anúncio público do furto dos paióis, e salienta que este incidente é de "extrema gravidade, devendo ser investigado e definidas todas as consequências".

O roubo veio evidenciar, segundo o documento, a "fragilidade de liderança e capacidade de gestão de crise, quer ao nível militar, quer ao nível político".
 
Pode ler-se ainda que este caso vem contribuir para "o sentimento de insegurança, a descredibilização do Exército e das Forças Armadas". O documento acrescenta ainda que a situação só não foi mais complexa devido à atuação "pronta e ponderada" do Presidente da República.

Segundo o documento, são três os cenários apontados como "muito prováveis" para o que aconteceu ao material roubado, num conjunto de dez cenários considerados possíveis: tráfico de armamento por uma empresa nortenha de venda de equipamento militar (esta empresa tem ligações a ex-militares, tendo um deles sido detido em 2016); um assalto feito por mercenários portugueses, contratados por radicais islâmicos, separatistas da Córsega ou máfias europeias); ou ainda por grupos de jihadistas islâmicos com células na Península Ibérica. 

Outros cenários assumidos pelo relatório admitem que o assalto tenha sido "encenado por motivos políticos", ou que tenha sido feito por criminosos ligados ao crime violento com ligações fora da Europa ou homens especializados em assaltos a bancos e a carrinhas de transporte de valores.

Assume-se ainda como "possível" a hipótese de se ter tratado de um roubo de seguranças privados ou uma encenação de militares descontentes por não terem passado à reserva.

Como "pouco provável", o relatório equaciona a hipótese de se ter tratado de um roubo da máfia dos Balcãs com ligações a Portugal ou de uma empresa portuguesa com sede no estrangeiro que recorre a mercenários.

Os autores do relatório sugerem uma investigação à empresa e trabalhadores que realizaram várias obras de reabilitação das infraestruturas em Tancos, uma vez que o roubo terá acontecido pouco depois de concluídos os últimos trabalhos na reconstrução da vedação exterior, que pode ter sido cortada antes dos primeiros trabalhos. 

O relatório foi entregue à Unidade Nacional de Contra-terrorismo (UNCT), à Polícia Judiciária e aos Serviços de Informações e Segurança (SIS).
Costa desconhece o relatório
Sobre o assunto, António Costa diz "desconhecer em absoluto" o documento revelado pelo Expresso. António Costa respondeu brevemente que não iria falar de um "assunto tão importante" durante uma ação de campanha.



Em Serralves, o Presidente da República também afirmou não ter conhecimento nem do relatório nem da notícia em causa. Marcelo Rebelo de Sousa destaca que se trata de um documento confidencial e diz que não teve oportunidade de ler nem o relatório nem a notícia deste sábado sobre o relatório.



O chefe de Estado diz que continuam a exigir-se respostas sobre o roubo de Tancos, quase três meses depois do furto, mas que esses resultados vão chegar por via de um "inquérito próprio".
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