"Um oceano de diferenças" no debate entre Gouveia e Melo e Catarina Martins

Os candidatos presidenciais Gouveia e Melo e Catarina Martins revelaram hoje um "oceano de diferenças", com o almirante a atacar a ideologia estatizante e a dirigente bloquista a apontar mudanças de posição ao seu adversário.

Lusa /
Nuno Fox - SIC

No frente-a-frente, na SIC, o ex-chefe do Estado Maior da Armada e a eurodeputada do Bloco de Esquerda estiveram em desacordo em pontos como a revisão das leis laborais, os sistemas de saúde e fiscal e em relação aos investimentos na defesa.

A expressão "um oceano de diferenças" foi usada por Henrique Gouveia e Melo logo no início do debate, quando procurou encostar Catarina Martins à "lógica partidária" do Bloco de Esquerda.

"Tem um pé aqui e outro em Bruxelas, eventualmente o seu pé de recuo. Olha para a Constituição da República de forma assimétrica, porque disse que se o Chega ganhasse as eleições tentaria evitar a todo custo que fizesse Governo. E é uma declinação sofisticada do marxismo-leninismo", declarou.

Pelo contrário, tal como tinha feito no seu primeiro debate, apresentou a sua candidatura como "suprapartidária e independente".

"Tenho os dois pés aqui, sem recuo nenhum, e há 45 anos que defendo a Constituição - e vou continuar a defendê-la. Sou pelo mercado, pela livre iniciativa e pela propriedade privada", disse.

Catarina Martins, que só teve a oportunidade de responder a estas acusações uns minutos depois, lembrou que Gouveia e Melo esteve recentemente num almoço com o presidente do Chega, André Ventura, promovido por um "magnata".

"Acho que fez mal em aceitar o convite do magnata. Temos que decidir quem é que defendemos: os magnatas, ou quem constrói o país com o seu trabalho", contra-atacou.

Neste ponto, o almirante assumiu que esteve nesse almoço com André Ventura e justificou a sua presença por ser candidato presidencial e, nesse sentido, ser importante conhecer os diferentes atores políticos.

Já Catarina Martins, após ter sido acusada por Gouveia e Melo de ter um pé na candidatura a Belém e outro em Bruxelas, respondeu: "A mim ninguém me diminui por ser eleita".

"Fui eleita porque tive confiança popular, e também ninguém me diminui sobre as escolhas que faço", respondeu a ex-coordenadora do Bloco de Esquerda e atual eurodeputada.

Sobre a questão de dar ou não posse a um Governo do Chega, advertiu que não iria passar a campanha "a falar de dar posse a um Governo da extrema-direita".

"Era o que mais faltava. Estou aqui para defender a liberdade e não para andar a falar dos sonhos salazarentos de André Ventura ou das suas tropelias. Cumprirei sempre, escrupulosamente, a Constituição", rematou.

Neste debate, Catarina Martins procurou sobretudo apontar indefinição e até mudanças de posição ao seu oponente, dando como exemplos as leis laborais e o papel dos Estados Unidos para a segurança de Portugal e da Europa.

"Sobre o Estado Social, já teve opinião que o Estado precisava ser mais pequeno. Sobre o trabalho, já defendeu flexibilidade, sem que eu nunca tivesse percebido", referiu.

O almirante, porém, recusou ter mudado de posição e frisou que, sem os Estados Unidos, a Europa terá um problema de defesa. No contra-ataque, atribuiu a Catarina Martins a defesa do desarmamento unilateral.

A ex-coordenador do BE, que invocou o antigo Presidente Jorge Sampaio como "um grande exemplo", recordou a sua oposição à guerra no Iraque. E terminou o debate a apontar que a compra de submarinos deu origem a suspeitas.

Na questão da reforma da legislação laboral, Gouveia e Melo admitiu a necessidade de uma flexibilização, mas criticou propostas do sentido de alargar os contratos a termo.

Catarina Martins colocou-se em frontal oposição ao anteprojeto do Governo e considerou grave a proposta que o executivo enviou à UGT em que, alegou, até se pretende permitir ao empregador baixar o trabalhador de posição e de salário.

Na área da saúde, a eurodeputada atacou a política do Governo, defendendo que se tem de aprender com "os bons exemplos", e Gouveia e Melo criticou a falta de rumo do executivo em relação a este setor, voltando a salientar a necessidade de uma profunda reorganização.

Na justiça, o ex-chefe de Estado Maior da Armada reiterou críticas às escutas de que foi alvo o ex-primeiro-ministro António Costa e frisou que tentativas de condicionamento da justiça ao sistema político serão para si "uma linha vermelha" -- um tema que a bloquista não abordou diretamente.

 

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