Política
Entre Políticos
Vice-presidente do PSD reclama vitória "em toda a linha". Socialista Mendonça Mendes questiona "grande vitória" social-democrata
São duas visões divergentes após a contagem dos votos: o PSD considera que a noite eleitoral foi, sobretudo, de sucessos, mas, o PS entende que os votos não deixam de demonstrar que há dúvidas sobre a governação social-democrata.
Fotografias de Gonçalo Costa Martins
"As eleições autárquicas são, em regra, muito personalizadas, porque as pessoas quando votam, votam especificamente em pessoas - independentemente de serem dos partidos. Agora, e não desmerecendo, o PSD e a AD tiveram uma belíssima noite, porque foi uma vitória em toda a linha", disse a dirigente social-democrata, que aponta: "Conseguimos recuperar o controlo da Associação Nacional de Municípios, conseguimos a Associação Nacional de Freguesias, conseguimos ter a maioria das capitais de distrito, conseguimos ter mais mandatos e mais presidentes de juntas de freguesia". Assim, conclui Inês Palma Ramalho, ainda que com derrotas em capitais de distrito como Bragança ou Viseu, a estratégia da AD para as eleições autárquicas teve resultados concretos.
"A estratégia resultou e, no final do dia, foi uma boa noite. E, no meu entender, há outra vitória: o travar do Chega, porque isso é um tema que é relevante para a política nacional", salientou a dirigente do PSD.
Mendonça Mendes: "Não diria que foi uma grande vitória do PSD"
Apesar das autarquias perdidas para o PSD, o socialista António Mendonça Mendes defende que a noite eleitoral não foi um passeio no parque para os sociais-democratas e destaca algumas das conquistas do PS.
"Quem ganhou as eleições foi o PSD. Ganha em termos quantitativos, em número de câmaras e ganha também em termos qualitativos, porque ganha as cinco maiores câmaras, que são as cinco câmaras mais populosas. Dito isto, eu não diria que isto foi uma grande vitória, como disse Luís Montenegro, porque agora temos que ver as coisas do ponto de vista relativo", disse, no programa Entre Políticos.
O ex-secretário de Estado do Governo de António Costa assinala que o partido de Luís Montenegro alcançou "mais oito câmaras" do que o PS e ironiza: "Portanto, a grande vitória são mais oito câmaras do que o PS, que ganha a maioria das câmaras da Área Metropolitana de Lisboa e ganha tantas câmaras na Área Metropolitana do Porto como o PSD". "Se olharmos para o conjunto das câmaras das duas grandes áreas metropolitanas, o PS tem 16 presidências de câmara e o PSD tem 11", sublinhou António Mendonça Mendes, que não esconde, no entanto, que o PSD alcançou o principal objetivo a que se propôs: "Consegue o objetivo de ganhar a Associação Nacional de Municípios. Isso é coincidente com o início de um ciclo de poder que o PSD tem".
Quanto ao desempenho do PS, o socialista lembra o passado recente e os resultados nas eleições legislativas de maio para afirmar que houve uma evolução desde a liderança de José Luís Carneiro.
"O PS teve uma enorme derrota em maio e era expectável olhar para estas eleições para tentar perceber se havia ou não uma consolidação dentro do sistema democrático daquilo que aconteceu em maio. O que me parece é que o PS é, e continua a ser, um grande partido nacional, com capacidade de vencer em centros urbanos e, portanto, de também continuar a atrair votos jovens", assinala.
António Mendonça Mendes considera ainda que os resultados mostram que é "claro" que a alternativa ao atual Governo é o PS e que as eleições serviram para os socialistas fazerem uma "avaliação" do que correu bem e mal desde maio.
"André Ventura coloca sempre a fasquia muito alta", aponta nova vereadora do Chega
Com três presidências de autarquias conquistadas, o Chega admite, contudo, que o resultado ficou longe do esperado e dos números alcançados, por exemplo, nas eleições legislativas.
"André Ventura coloca sempre a fasquia muito alta e o nosso objetivo é sempre vencer. Nós nunca entramos em campo para perder, nós quando vamos a umas eleições trabalhamos muito para vencer", disse, na Antena 1, a deputada Felicidade Vital.
No programa Entre Políticos, a nova vereadora do Chega - eleita no município de Torres Vedras - afirma que os resultados do partido nas eleições autárquicas "poderiam ser melhores", mas salienta: "Foram muito bons, porque não podemos esquecer que nós somos um partido com seis anos e estamos a lutar ao lado de dinossauros que têm 50 anos de penetração no país e nas autárquicas". "Nós conseguimos eleger nos 18 distritos, nas duas regiões autónomas, inclusive ganhámos uma câmara na Madeira, em São Vicente, e quadruplicámos os resultados, portanto, isto é um excelente resultado", vinca.
A deputada entende ainda que será nas eleições legislativas que poderá ser feito uma avaliação mais correta do potencial eleitoral do Chega, mas também do PS. "Só poderemos ver se o PS será, de facto, uma alternativa quando voltarmos a ter legislativas, porque os resultados das autárquicas não se podem extrapolar, porque todos sabemos que são eleições completamente diferentes, estão muito centradas nas pessoas".
LIVRE quer continuar política de "convergências" à esquerda
Apesar das dificuldades sentidas no palco autárquico - e com a derrota em Lisboa da coligação que juntava PS, Livre, BE e PAN -, Paulo Muacho defende que a estratégia de alianças deve ser continuada, mesmo que alguns dos resultados tenham ficado aquém do esperado.
"O Livre sempre defendeu uma estratégia de convergência. Essa estratégia deu bons resultados em alguns locais. Uma coligação com o PS e o PAN, por exemplo, ganhou em Coimbra. O Livre também tem em coligação com o PS em Felgueiras e voltámos a ganhar. O que percebemos é que, em municípios muito relevantes como Setúbal, Braga ou Porto, a vontade de convergência da parte do PS poderia ter dado vitórias à esquerda, e isso, efetivamente, não aconteceu" sinaliza o dirigente do partido.
Paulo Muacho destaca a forma como o partido não foi considerado por Manuel Pizarro, candidato do PS no Porto, numa candidatura que incluiu também o PAN. "Aquilo que nós vimos é que havia muita desvalorização do papel do Livre e do contributo que o Livre poderia dar. Objetivamente, foi um erro, porque o Livre, à sua escala, naturalmente, também saiu vitorioso destas eleições", insistiu, na Antena 1, onde reconheceu que será preciso olhar também para dentro do partido, desde logo após derrotas como no caso de Lisboa.
Paulo Muacho admite que é preciso analisar "internamente" algumas decisões e assinala que houve outras coligações que "não correram tão bem" e que "não correram como nós esperávamos". Porém, olhando para os resultados, o deputado aponta: "Quando concorremos sozinhos, tivemos resultados muito positivos em cidades como Barcelos, Faro ou Vila Franca de Xira. São resultados animadores".