Pentágono avisa Trump: "Não fazemos um juramento a um indivíduo"

por RTP
"Nós não fazemos um juramento a um rei ou a uma rainha, a um tirano ou a um ditador", declarou o general Mark Milley. Kevin Lamarque - Reuters

O Departamento de Defesa dos Estados Unidos deixou claro a Donald Trump que pretende manter a sua natureza apolítica e que não quer envolver-se em qualquer conflito relacionado com a transição de poderes presidenciais. O general de topo Mark Milley lembrou que os militares fazem um juramento "à Constituição" e não "a um indivíduo".

As declarações de Mark Milley chegaram na quarta-feira, depois de dias atribulados no Pentágono, que viu o secretário da Defesa Mark Esper ser demitido por Donald Trump naquela que pode ter sido uma jogada estratégica do ainda presidente.

Na mesma altura em que despediu Esper, Trump elegeu três novos elementos para cargos elevados na área da política no Pentágono. As mudanças abruptas estão, agora, a levantar receios sobre a até agora natureza apolítica das forças militares, que poderá eventualmente ser derrubada pela Casa Branca.

“Nós somos únicos entre as forças militares”, disse o general Mark Milley, presidente do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, corpo de líderes seniores do Departamento de Defesa norte-americano.

“Nós não fazemos um juramento a um rei ou a uma rainha, a um tirano ou a um ditador. Não fazemos um juramento a um indivíduo”, acrescentou.

“Fazemos um juramento à Constituição”, frisou o general, garantindo que cada militar “irá proteger e defender esse documento, independentemente do preço pessoal que tenha de pagar”.

As palavras de Milley espelham aquela que tem sido a sua firme posição sobre o dever inequívoco dos militares de proteger e defender a Constituição. Mas a sua mensagem parece também ter sido a de que as forças militares existem para defender a democracia e não para serem usadas como peões políticos.
Quais as intenções de Trump?
As motivações de Donald Trump para as alterações que realizou esta semana no Pentágono são ainda uma incógnita, tendo gerado aparente inquietação dentro do Departamento de Defesa.

O despedimento de Mark Esper, anunciado através de um tweet, tanto pode ter sido apenas um ajuste de contas de Trump com um secretário da Defesa que abertamente discordava do presidente, como pode ter sido uma manobra para abrir caminho a ações na política interna ou externa que Esper estava a bloquear.

Num cenário mais extremo, a jogada do republicano pode também ter sido tentar que as forças militares o ajudem a manter o seu lugar na Sala Oval, procurando impedir que Joe Biden o substitua, recusando-se, assim, a aceitar os resultados eleitorais.

Marl Milley descartou esta última hipótese em agosto, tendo assegurado ao Congresso que “no caso de uma disputa sobre qualquer aspeto das eleições, a lei manda que sejam os tribunais dos Estados Unidos e o Congresso a resolvê-la, não as forças militares”.

O general sublinhou ainda, na altura, que os membros do seu departamento não devem envolver-se na questão da transferência de poderes após as eleições.

Qualquer mudança radical decidida pelo ainda presidente para o Pentágono é, assim, improvável. Até porque, para além das bases democráticas sobre as quais assenta a sede do Departamento de Defesa, os membros do Estado-Maior Conjunto são também influentes conselheiros presidenciais com décadas de experiência, pelo que facilmente poderão comprovar a Trump as potenciais consequências de qualquer ação de segurança nacional.
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