Política
Presidenciais
Campanha eleitoral na estrada com ataques reforçados
As candidaturas presidenciais abordam hoje o segundo dia da campanha para o escrutínio de 23 de janeiro com um redobrar dos ataques e contra-ataques. Do flanco de Cavaco Silva saem críticas ao Governo e a promessa de que a corrida não vai ser feita no “conforto do sofá”. Manuel Alegre, Fernando Nobre e Francisco Lopes apostam numa segunda volta, enquanto Defensor Moura e José Manuel Coelho mantêm o tom de guerra aberta.
Frustrar os indicadores das sondagens e obrigar Cavaco Silva a enfrentar uma segunda volta em Fevereiro é agora um objetivo comum a todas as candidaturas adversárias do atual Presidente da República. Concluída a pré-campanha, Cavaco procura escapar às ondas de choque do caso que marcou as últimas semanas - a alienação das ações que deteve na Sociedade Lusa de Negócios. Na noite de domingo, a fechar o primeiro dia da campanha, o candidato à reeleição pegou no tema da agricultura para aprofundar a linha de demarcação para com o Executivo socialista de José Sócrates.
Durante um jantar de campanha no Vimeiro, diante das “gentes do Oeste”, Cavaco Silva acusou o Governo de desperdício de fundos comunitários para a agricultura, um setor, disse, que pode contribuir “num período relativamente curto para melhorar a situação do endividamento externo português”: “Bastava que não desperdiçássemos os apoios comunitários que têm sido colocados à disposição de Portugal”.
“Verificamos que os nossos agricultores não os recebem, quando eles são encaminhados para outros países da Europa. É lamentável que um país possa beneficiar de apoios para a sua agricultura e depois não encontre os recursos nacionais para fazer boa utilização daquilo a que temos direito da Europa de que fazemos parte”, lançou Cavaco. Os agricultores, prosseguiu, “passam uma vida dura” e querem ultrapassar “as intempéries”: “Mas para isso é preciso que a Administração Pública e os políticos da área da agricultura estejam verdadeiramente ao lado dos agricultores e não para algumas vezes lhes dirigirem palavras de falta de respeito, como aconteceu no passado”.
O candidato apoiado por PSD, CDS-PP e Movimento Esperança Portugal (MEP), que hoje volta a encontrar-se com agricultores, desta feita em Alcobaça, garantiu ainda que não vai ficar “no conforto do sofá” ou da “cadeira na Presidência da República”.
“Nada está decidido”
Mais de um milhar de apoiantes ouviram ontem à noite, na Ribeira Grande, um apelo de Manuel Alegre “à luta”. A poucas horas do regresso ao Continente, depois de ter lançado a sua campanha nos Açores, o candidato apoiado pelo PS e pelo Bloco de Esquerda tratou de insistir na ideia de que “Cavaco Silva não está eleito”. Até porque “em democracia não há vencedores antecipados, manda a vontade dos cidadãos”.
Na intervenção que preparou para o último jantar-comício da deslocação aos Açores, Alegre multiplicou os ataques a Cavaco, aludindo às posições assumidas pelo Presidente da República quanto à remuneração compensatória que o Governo Regional de Carlos César decidiu atribuir aos funcionários públicos dos Açores. O Chefe de Estado, criticou o antigo deputado socialista, “escolheu a Argentina para atacar a autonomia”. “Estou aqui pela autonomia, não tenho suspeições sobre a autonomia, ao contrário do centralismo, que rima com autoritarismo”, declarou.
Sem desviar a mira de Cavaco Silva, Manuel Alegre apresentou-se como o “candidato de uma coligação de cidadãos, apoiada por partidos, e não, como Cavaco Silva, candidato de uma coligação de partidos que quer ir para o governo”: “A minha agenda não é levar os partidos que me apoiam ao poder”.
Alegre condenou, na mesma ocasião, o “forte ataque especulativo” ao país e as pressões no sentido de um recurso ao fundo europeu de estabilização e ao Fundo Monetário Internacional, acusando algumas forças de serem “cúmplices” dessa ofensiva. A unidade nacional, advogou, é o caminho que permitirá demonstrar que “somos capazes de resolver os nossos problemas”.
“Baralhar as contas”
A apostar na bandeira da independência face às organizações partidárias, Fernando Nobre parte para a primeira semana da campanha com a convicção de que é “o terceiro candidato” a Belém, disputando diretamente a Presidência com Cavaco Silva e Manuel Alegre. No domingo, perante as centenas de apoiantes que preencheram o cinema Batalha, no Porto, prometeu mesmo “baralhar as contas”.
“Para aqueles que pensavam que já estava tudo decidido, para aqueles que nos quiseram silenciar, eu estou aqui para dizer que serei Presidente e que ninguém ficará para trás”, afirmou o fundador da Assistência Médica Internacional, acrescentando que a sua candidatura deixa “inquietos” aqueles para quem a “a força da cidadania é bonita quando é retórica e pura circunstância, mas torna-se uma ameaça quando é real”: “Esta nossa cidadania é real e eles têm razão em temer-nos”.
Sem deixar de ressalvar que não é “contra os partidos políticos”, Nobre lembrou que a sua condição de candidato sem apoios de forças políticas significa que tem ao seu dispor “meios tremendamente desiguais”. “Um candidato apoiado por um partido pode receber apoios através do partido, donativos de empresas e não pagar IVA”, assinalou. Algo que não é “legalmente possível para uma candidatura independente”.
“A única” candidatura “que une todos”
Francisco Lopes abriu ontem a campanha no Porto, onde deixou críticas severas quer a Cavaco Silva, a quem devolveu a acusação de “radicalismo e extremismo”, quer a Manuel Alegre, que descreveu como “o candidato do partido que está no Governo a fazer uma política desastrosa”, pelo que “não é alternativa, é a continuidade”. O candidato do PCP à Presidência apresentou-se como o rosto de uma candidatura que é “a única que une todos”.
“Apelamos à unidade nesta candidatura de todos os que são atingidos por esta política de direita, de injustiça social e desastre nacional”, exortou Francisco Lopes, para quem cabe somente aos eleitores decidir “quem vai à segunda volta”. “A verdadeira opção eleitoral é entre a nossa candidatura e os restantes candidatos”, insistiu o candidato, retomando a tese deixada pouco tempo antes pelo secretário-geral do PCP. Jerónimo de Sousa afirmara que “a real bipolarização nestas eleições é entre as candidaturas de suporte à política de direita e o único candidato que assume como questão central a rutura com tais políticas”.
No comício do Palácio de Cristal, que juntou, segundo o partido, cinco mil pessoas, Francisco Lopes respondeu ainda aos recentes avisos de Cavaco Silva contra o voto em candidatos “extremistas”: “Haverá maior radicalismo e extremismo do que a sua prática que conduz à liquidação de Portugal como nação soberana e independente, do que a sua ação na imposição de sacrifícios ao povo português, ao serviço dos interesses, da gestão fraudulenta e criminosa, das mordomias, dos lucros e do poder dos grupos económicos e financeiros? Não, não há”.
“Demita-se”
A ligação de Cavaco Silva ao caso do Banco Português de Negócios é ainda o tema à cabeça do discurso político de Defensor Moura, que ontem, em Viana do Castelo, desafiou mesmo o Presidente a demitir-se: “Senhor Presidente, demita-se se quer prestigiar a função de Presidente da República, porque não é com esta teia de amigos que consegue prestigiar a Presidência da República e o país”.
Os portugueses, reafirmou o deputado socialista, vão ser forçados a custear um défice de cinco mil milhões de euros em negócios que “resultaram do favorecimento dos administradores do banco a alguns clientes que receberam mais do que deviam, sendo favorecidos por uma administração clientelista”. “Um dos favorecidos foi o cidadão Cavaco Silva, que não era na altura Presidente da República e não fazia declarações para o Tribunal Constitucional”, insistiu, acrescentando que “ter 140 por cento de lucro em dois anos é mais do que dava a dona Branca”: “Até eu, que sou médico, acharia suspeito receber um lucro tão elevado”.
Defensor Moura criticou também Cavaco por se ter queixado, durante os debates televisivos, de estar a ser alvo de acusações a propósito de nomes com os quais trabalhou há 25 anos. “Não é verdade. Ele foi governante até há 15 anos, depois teve relação há sete anos com o presidente do banco, que tinha sido seu secretário de Estado, para fazer o negócio de tais ações em que ganhou 140 por cento e um outro responsável importante desse banco era membro do Conselho de Estado”, recordou.
“Uma candidatura nacional”
De regresso ao Funchal, após um irreverente périplo de pré-campanha por Lisboa e Açores, José Manuel Coelho disse este fim-de-semana que a sua candidatura é “nacional”, embora sirva “para ajudar a libertar a Madeira do tiranete Alberto João Jardim”.
“Na Madeira vivemos uma situação e regime de exceção. Temos um tiranete que governa a região há mais de 30 anos, o que é uma coisa imoral, porque em parte nenhuma do mundo há um governante a governar há mais de 30 anos. Só existem duas ilhas no mundo onde isto acontece, na Madeira e em Cuba, mas em Cuba o tiranete já passou a pasta e temos que mudar isto”, afirmava o candidato no sábado, antes de se saber da entrada do presidente do Governo Regional no hospital, na sequência de um enfarte do miocárdio.
“A minha luta é contra a corrupção, os políticos ladrões que roubam o erário público, os impostos do nosso país. A minha luta é muito simples. É uma luta entre os portugueses que pagam impostos e os portugueses que querem roubar esses impostos”, resumiu Coelho.
A campanha eleitoral prolonga-se até ao dia 21. Para as eleições de 23 de janeiro estão recenseados 9 656 474 eleitores. Uma eventual segunda volta terá lugar a 13 de fevereiro, 21 dias depois da primeira chamada às urnas.
Durante um jantar de campanha no Vimeiro, diante das “gentes do Oeste”, Cavaco Silva acusou o Governo de desperdício de fundos comunitários para a agricultura, um setor, disse, que pode contribuir “num período relativamente curto para melhorar a situação do endividamento externo português”: “Bastava que não desperdiçássemos os apoios comunitários que têm sido colocados à disposição de Portugal”.
“Verificamos que os nossos agricultores não os recebem, quando eles são encaminhados para outros países da Europa. É lamentável que um país possa beneficiar de apoios para a sua agricultura e depois não encontre os recursos nacionais para fazer boa utilização daquilo a que temos direito da Europa de que fazemos parte”, lançou Cavaco. Os agricultores, prosseguiu, “passam uma vida dura” e querem ultrapassar “as intempéries”: “Mas para isso é preciso que a Administração Pública e os políticos da área da agricultura estejam verdadeiramente ao lado dos agricultores e não para algumas vezes lhes dirigirem palavras de falta de respeito, como aconteceu no passado”.
O candidato apoiado por PSD, CDS-PP e Movimento Esperança Portugal (MEP), que hoje volta a encontrar-se com agricultores, desta feita em Alcobaça, garantiu ainda que não vai ficar “no conforto do sofá” ou da “cadeira na Presidência da República”.
“Nada está decidido”
Mais de um milhar de apoiantes ouviram ontem à noite, na Ribeira Grande, um apelo de Manuel Alegre “à luta”. A poucas horas do regresso ao Continente, depois de ter lançado a sua campanha nos Açores, o candidato apoiado pelo PS e pelo Bloco de Esquerda tratou de insistir na ideia de que “Cavaco Silva não está eleito”. Até porque “em democracia não há vencedores antecipados, manda a vontade dos cidadãos”.
Na intervenção que preparou para o último jantar-comício da deslocação aos Açores, Alegre multiplicou os ataques a Cavaco, aludindo às posições assumidas pelo Presidente da República quanto à remuneração compensatória que o Governo Regional de Carlos César decidiu atribuir aos funcionários públicos dos Açores. O Chefe de Estado, criticou o antigo deputado socialista, “escolheu a Argentina para atacar a autonomia”. “Estou aqui pela autonomia, não tenho suspeições sobre a autonomia, ao contrário do centralismo, que rima com autoritarismo”, declarou.
Sem desviar a mira de Cavaco Silva, Manuel Alegre apresentou-se como o “candidato de uma coligação de cidadãos, apoiada por partidos, e não, como Cavaco Silva, candidato de uma coligação de partidos que quer ir para o governo”: “A minha agenda não é levar os partidos que me apoiam ao poder”.
Alegre condenou, na mesma ocasião, o “forte ataque especulativo” ao país e as pressões no sentido de um recurso ao fundo europeu de estabilização e ao Fundo Monetário Internacional, acusando algumas forças de serem “cúmplices” dessa ofensiva. A unidade nacional, advogou, é o caminho que permitirá demonstrar que “somos capazes de resolver os nossos problemas”.
“Baralhar as contas”
A apostar na bandeira da independência face às organizações partidárias, Fernando Nobre parte para a primeira semana da campanha com a convicção de que é “o terceiro candidato” a Belém, disputando diretamente a Presidência com Cavaco Silva e Manuel Alegre. No domingo, perante as centenas de apoiantes que preencheram o cinema Batalha, no Porto, prometeu mesmo “baralhar as contas”.
“Para aqueles que pensavam que já estava tudo decidido, para aqueles que nos quiseram silenciar, eu estou aqui para dizer que serei Presidente e que ninguém ficará para trás”, afirmou o fundador da Assistência Médica Internacional, acrescentando que a sua candidatura deixa “inquietos” aqueles para quem a “a força da cidadania é bonita quando é retórica e pura circunstância, mas torna-se uma ameaça quando é real”: “Esta nossa cidadania é real e eles têm razão em temer-nos”.
Sem deixar de ressalvar que não é “contra os partidos políticos”, Nobre lembrou que a sua condição de candidato sem apoios de forças políticas significa que tem ao seu dispor “meios tremendamente desiguais”. “Um candidato apoiado por um partido pode receber apoios através do partido, donativos de empresas e não pagar IVA”, assinalou. Algo que não é “legalmente possível para uma candidatura independente”.
“A única” candidatura “que une todos”
Francisco Lopes abriu ontem a campanha no Porto, onde deixou críticas severas quer a Cavaco Silva, a quem devolveu a acusação de “radicalismo e extremismo”, quer a Manuel Alegre, que descreveu como “o candidato do partido que está no Governo a fazer uma política desastrosa”, pelo que “não é alternativa, é a continuidade”. O candidato do PCP à Presidência apresentou-se como o rosto de uma candidatura que é “a única que une todos”.
“Apelamos à unidade nesta candidatura de todos os que são atingidos por esta política de direita, de injustiça social e desastre nacional”, exortou Francisco Lopes, para quem cabe somente aos eleitores decidir “quem vai à segunda volta”. “A verdadeira opção eleitoral é entre a nossa candidatura e os restantes candidatos”, insistiu o candidato, retomando a tese deixada pouco tempo antes pelo secretário-geral do PCP. Jerónimo de Sousa afirmara que “a real bipolarização nestas eleições é entre as candidaturas de suporte à política de direita e o único candidato que assume como questão central a rutura com tais políticas”.
No comício do Palácio de Cristal, que juntou, segundo o partido, cinco mil pessoas, Francisco Lopes respondeu ainda aos recentes avisos de Cavaco Silva contra o voto em candidatos “extremistas”: “Haverá maior radicalismo e extremismo do que a sua prática que conduz à liquidação de Portugal como nação soberana e independente, do que a sua ação na imposição de sacrifícios ao povo português, ao serviço dos interesses, da gestão fraudulenta e criminosa, das mordomias, dos lucros e do poder dos grupos económicos e financeiros? Não, não há”.
“Demita-se”
A ligação de Cavaco Silva ao caso do Banco Português de Negócios é ainda o tema à cabeça do discurso político de Defensor Moura, que ontem, em Viana do Castelo, desafiou mesmo o Presidente a demitir-se: “Senhor Presidente, demita-se se quer prestigiar a função de Presidente da República, porque não é com esta teia de amigos que consegue prestigiar a Presidência da República e o país”.
Os portugueses, reafirmou o deputado socialista, vão ser forçados a custear um défice de cinco mil milhões de euros em negócios que “resultaram do favorecimento dos administradores do banco a alguns clientes que receberam mais do que deviam, sendo favorecidos por uma administração clientelista”. “Um dos favorecidos foi o cidadão Cavaco Silva, que não era na altura Presidente da República e não fazia declarações para o Tribunal Constitucional”, insistiu, acrescentando que “ter 140 por cento de lucro em dois anos é mais do que dava a dona Branca”: “Até eu, que sou médico, acharia suspeito receber um lucro tão elevado”.
Defensor Moura criticou também Cavaco por se ter queixado, durante os debates televisivos, de estar a ser alvo de acusações a propósito de nomes com os quais trabalhou há 25 anos. “Não é verdade. Ele foi governante até há 15 anos, depois teve relação há sete anos com o presidente do banco, que tinha sido seu secretário de Estado, para fazer o negócio de tais ações em que ganhou 140 por cento e um outro responsável importante desse banco era membro do Conselho de Estado”, recordou.
“Uma candidatura nacional”
De regresso ao Funchal, após um irreverente périplo de pré-campanha por Lisboa e Açores, José Manuel Coelho disse este fim-de-semana que a sua candidatura é “nacional”, embora sirva “para ajudar a libertar a Madeira do tiranete Alberto João Jardim”.
“Na Madeira vivemos uma situação e regime de exceção. Temos um tiranete que governa a região há mais de 30 anos, o que é uma coisa imoral, porque em parte nenhuma do mundo há um governante a governar há mais de 30 anos. Só existem duas ilhas no mundo onde isto acontece, na Madeira e em Cuba, mas em Cuba o tiranete já passou a pasta e temos que mudar isto”, afirmava o candidato no sábado, antes de se saber da entrada do presidente do Governo Regional no hospital, na sequência de um enfarte do miocárdio.
“A minha luta é contra a corrupção, os políticos ladrões que roubam o erário público, os impostos do nosso país. A minha luta é muito simples. É uma luta entre os portugueses que pagam impostos e os portugueses que querem roubar esses impostos”, resumiu Coelho.
A campanha eleitoral prolonga-se até ao dia 21. Para as eleições de 23 de janeiro estão recenseados 9 656 474 eleitores. Uma eventual segunda volta terá lugar a 13 de fevereiro, 21 dias depois da primeira chamada às urnas.