Democracia: ainda precisamos de políticos?

por Daniela Ferreira Pinto

Raquel Morão Lopes - RTP

Na democracia direta todos os cidadãos têm o mesmo peso. Tem origem na Grécia Antiga, mas fará ainda sentido hoje em dia? E que dizer das redes sociais? No Estado da União, em Florença, o Europa Minha acompanhou o debate.

Durante os meses de inverno multidões reuniram-se em protesto, todos os sábados, nas ruas de Paris. No entanto, das centenas de milhares de franceses que se manifestaram, poucos são aqueles que contam levar o descontentamento às urnas. Em França, apenas 39% dos eleitores vota nas eleições europeias.

Elevadas taxas de abstenção espelham uma distância entre eleitores e eleitos. É partindo dessa reflexão que o European University Institute pergunta: precisamos mesmo de políticos?

Na conferência sobre o Estado da União, em Florença, a democracia esteve em análise. Ainda existe? Faz sentido continuar com o modelo vertical que estrutura as instituições democráticas que conhecemos? Ou, pelo contrário, as sociedades devem investir em modelos horizontais, na chamada democracia direta?

Democracia direta: sistema político sem intermediários. Todos os cidadãos participam no processo de tomada de decisão.No painel esteve Hans Gert Pottering, antigo Presidente do Parlamento Europeu. Para o conservador alemão a resposta é clara. “Precisamos de políticos porque a política tem a ver com confiança e segurança”. Sem seres humanos “isso não é possível”, justifica.

Os partidos tradicionais têm vindo a perder apoio, como demonstram as sondagens para as eleições europeias. O novo parlamento deverá sofrer um esvaziamento dos tradicionais grupos políticos europeus. Do Partido Popular Europeu e dos Socialistas e Democratas para os pólos do hemiciclo, novas forças políticas surgem reforçadas: os liberais, os partidos mais à esquerda e a extrema-direita.


Também os movimentos de cidadãos surgem com fôlego renovado. Nos anos mais recentes, foram várias as campanhas com evidente influência nas redes sociais. Os Coletes Amarelos, as campanhas pelo #Bremain, ou mesmo movimentos semelhantes na Hungria.

Hans Gert Pottering reconhece a importância dos novos meios de comunicação mas considera que “não podem substituir o toque humano”, e reforça a importância de intermediários nos grandes partidos para colmatar a distância entre a população e a classe política.
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