Lei marcial na Ucrânia. Putin pede pressão de Merkel sobre Kiev

por Carlos Santos Neves - RTP
Em contacto telefónico com a chanceler alemã, o Presidente russo manifestou “séria preocupação” com a lei marcial na Ucrânia Alexei Nikolsky - Sputnik/ Reuters

Perante a instauração da lei marcial nas regiões fronteiriças da Ucrânia, aprovada pelo Parlamento de Kiev, o Presidente russo veio esta terça-feira advertir o país vizinho contra qualquer ação “irrefletida”. Vladimir Putin apelou mesmo à chanceler alemã, Angela Merkel, para que exerça pressão, enquanto voz ocidental, sobre o Governo ucraniano.

Segue em crescendo a tensão entre Moscovo e Kiev, depois de a Rússia ter apresado, no domingo, três navios militares ucranianos no Mar Negro. Este é o primeiro conflito aberto entre estes protagonistas desde a anexação da península ucraniana da Crimeia, comandada em 2014 a partir do Kremlin, e a guerra entre tropas ucranianas e separatistas pró-Rússia no leste da antiga república soviética.
Na abordagem de domingo a três navios ucranianos – um rebocador e duas vedetas – no Estreito de Kerch, as forças russas detiveram duas dezenas de marinheiros. Kiev refere seis ucranianos feridos. Moscovo confirma três.

Na noite de segunda-feira, o Parlamento ucraniano aprovou a instauração da lei marcial, por 30 dias, nas regiões de fronteira. O Presidente Petro Porochenko surgiu nos ecrãs de televisão para justificar a medida com o que descreveu como “ameaça extremamente elevada” de uma investida militar russa por terra.

“Assim que um soldado russo atravessar a nossa fronteira, não perderei um segundo para proteger o nosso país”, clamou o Presidente ucraniano, na antecâmara da votação parlamentar.

Moscovo argumenta ter agido “em estrita conformidade com o Direito Internacional”, alegando que os navios ucranianos entraram de forma ilegal em águas territoriais da Rússia ao largo da Crimeia, o que teria constituído uma “provocação”. Acusa mesmo Kiev de ter gerado, assim, “um pretexto para o reforço das sanções” impostas há quatro anos à Rússia.

Vladimir Putin veio entretanto fazer uma advertência às autoridades ucranianas. E em contacto telefónico com a chanceler alemã, na última noite, o Presidente russo manifestou “séria preocupação” face à instauração da lei marcial no país vizinho.

Segundo uma nota do Kremlin, citada pelas agências internacionais, Putin insistiu na tese das “ações de provocação” por parte dos ucranianos e de “uma grosseira violação das normas do Direito Internacional”. Afirmou ainda “esperar que Berlim possa influenciar as autoridades ucranianas de forma a dissuadir atos ulteriores irrefletidos”.

O ministro alemão dos Negócios Estrangeiros, Heiko Mass, havia já sugerido que Alemanha e França partilhassem um esforço de mediação entre ucranianos e russos.
“Não gostamos”
Também na segunda-feira, durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a embaixadora cessante dos Estados Unidos Nikki Haley classificou como “ilegal” a atuação russa, algo que “torna impossível” uma “relação normal” entre o Kremlin e a Casa Branca.O Estreito de Kerch separa a Crimeia da Rússia. É a única passagem marítima a ligar o Mar Negro ao Mar de Azov. Vladimir Putin inaugurou em maio uma ponte entre o território russo e a península.

“Como o Presidente do meu país disse muitas vezes, os Estados Unidos são a favor de um relacionamento normal com a Rússia, mas ações ilegais como esta tornam isso impossível”, vincou a representante diplomática.

“Não gostamos do que está a acontecer”, afirmou por sua vez o Presidente norte-americano, Donald Trump.

A Rússia, pela voz do embaixador na ONU Dmitry Polyanskiy, acusou o Presidente da Ucrânia de orquestrar a crise com o propósito de impedir as eleições de março e assim prolongar o mandato: “Todos percebemos do que se trata. Isto aconteceu para cancelar as eleições, apesar das promessas em contrário”.

A lei marcial entrará em vigor na manhã de quarta-feira, cobrindo uma dezena de regiões que fazem fronteira com a Rússia e a Bielorrússia e na costa do Mar de Azov, fundamental para as exportações de produtos do leste da Ucrânia, nomeadamente o aço e os cereais. Ao abrigo desta medida, as autoridades ucranianas poderão mobilizar cidadãos, introduzir limites às concentrações públicas e regular os órgãos de comunicação social.

Governo ucraniano e aliados ocidentais acusavam, nos últimos meses, Moscovo de obstaculizar intencionalmente a navegação comercial entre os mares Negro e de Azov.

c/ agências
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