Comissão Europeia insiste em acesso condicionado aos fundos da UE por Estado de direito

por Lusa
Yves Herman - Reuters

A Comissão Europeia, que hoje apresentou o seu primeiro relatório sobre Estado de direito na União Europeia (UE), insistiu no acesso condicionado aos fundos comunitários pelo respeito por estes valores, assegurando que "não se retrairá" em sancionar violações.

"Precisamos de uma condicionalidade no Quadro Financeiro Plurianual para lidar com estas violações do Estado de direito contra os interesses financeiros da UE", defendeu a vice-presidente da Comissão Europeia Vera Jourová com a pasta dos Valores e Transparência.

Falando em conferência de imprensa em Bruxelas na apresentação do primeiro relatório anual sobre a situação do Estado do direito na UE - que revela desafios importantes no cumprimento destes valores comunitários, principalmente na Hungria e Polónia -, Vera Jourová frisou que "a Comissão Europeia tem um papel importante, enquanto guardiã dos tratados, perante tais violações".

"E é por isso que, no futuro, não nos vamos retrair de lançar infrações e de continuar a discussão no âmbito do artigo 7.º" do Tratado de Lisboa, assegurou a responsável.

A Comissão Europeia ativou em 2017 contra a Polónia e em 2018 contra a Hungria o procedimento conhecido como o artigo 7.º do Tratado de Lisboa, que contempla sanções aos Estados-membros se houver um risco claro de violação grave dos valores em que se baseia a UE.

Estes dois países, que são dos mais visados no relatório hoje divulgado, são também dos que mais se têm oposto a uma condicionalidade no acesso aos fundos da UE relativa ao cumprimento pelo Estado de direito.

Também hoje, a presidência alemã do Conselho da UE foi mandatada para negociar com o Parlamento Europeu o acesso condicionado às verbas comunitárias do orçamento e Fundo de Recuperação pelo cumprimento do Estado de direito pelos países.

Em causa está a aprovação, na reunião de hoje dos embaixadores dos Estados-membros junto da UE, da proposta apresentada pela Alemanha para que seja negociado este "regime geral de condicionalidade para a proteção do orçamento da União", disseram fontes europeias à agência Lusa.

As mesmas fontes referiram à Lusa que "uma maioria alargada" (maioria qualificada) de países aprovou tal proposta, sendo que Hungria e Polónia votaram contra, bem como os designados países `frugais`.

Aludindo a tal aprovação, Vera Jourová disse estar "satisfeita pelo nível avançado dessas negociações".

A responsável acrescentou considerar que este regime de condicionalidade "é negociável" e que "os Estados-membros a levarão a sério porque protege os interesses financeiros" da Europa.

"Fico também satisfeita por as negociações estarem a prosseguir", adiantou.

A proposta hoje aprovada no Conselho, e à qual a Lusa teve acesso, prevê que os Estados-membros só possam aceder aos montantes do Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027 e do Fundo de Recuperação (criado para o pós-pandemia de covid-19) se respeitarem valores como os princípios da legalidade e transparência, da independência dos tribunais e da igualdade perante a lei, entre outros.

Em julho passado, foi aprovado um Quadro Financeiro Plurianual para 2021-2027 de 1,074 biliões de euros e um Fundo de Recuperação de 750 mil milhões para fazer face à crise gerada pela covid-19.

Na altura, Polónia e Hungria recusaram que o cumprimento do Estado de Direito fosse uma condição obrigatória para aceder a tais fundos comunitários.

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