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O que pensa a Geração Z sobre o trabalho, a educação e o futuro na Grécia
São educados, ambiciosos e digitalmente nativos - no entanto, muitos jovens gregos sentem-se presos a empregos mal pagos e a um futuro incerto. De acordo com uma nova investigação do Instituto do Trabalho, a Geração Z luta para encontrar lugar num mercado de trabalho que ainda não aproveita o seu potencial.
O Instituto do Trabalho, em colaboração com a ALCO, apresentou nesta quarta-feira os resultados do inquérito nacional "Juventude e Trabalho 2025", que analisa a atitude da Geração Z (jovens até aos 29 anos) em relação ao trabalho, à educação e ao futuro.
O inquérito foi realizado em outubro de 2025, com uma amostra nacional de 1500 jovens trabalhadores, e traça o perfil de uma geração que trabalha, reivindica dignidade e perspetiva num ambiente de precariedade e exaustão. Eis os principais resultados.
Dependência financeira e falta de autonomia
A nova geração de trabalhadores está a viver numa dependência prolongada da família que não é uma escolha, antes uma necessidade. Este fenómeno está ligado aos baixos salários, à habitação cara e a um Estado-providência que precisa de ser reforçado.
A autonomia económica é adiada e, com ela, a transição para a vida adulta: a constituição de um agregado familiar ou de uma identidade profissional. Esta geração é uma geração ativa mas incapaz de viver de forma autónoma, na fronteira entre o emprego e a procura de autonomia.
Descontinuidade da educação face ao emprego
A discrepância entre a educação e o mercado de trabalho é indicativa de uma descontinuidade institucional, bem como da imaturidade do sistema produtivo e das empresas em termos de utilização do potencial humano da nova geração.
O mercado de trabalho grego caracteriza-se por um baixo nível de densidade organizacional e tecnológica, o que limita a sua capacidade de aproveitar o conhecimento, as competências digitais e a criatividade dos jovens licenciados.
A separação entre emprego e conhecimento resultou num duplo desafio de subemprego e frustração. A Geração Z, sendo a geração mais instruída, é também a menos integrada na produção de elevado valor acrescentado.
Vida profissional: Pressão e stress
A Geração Z está a entrar num mundo de trabalho em que os cuidados e a resiliência mental são colocados claramente aos seus ombros. As pressões sobre o desempenho, os horários alargados e a reduzida proteção coletiva podem conduzir a um esgotamento e fadiga mental generalizados.
A perceção de um tempo pessoal limitado e as fronteiras indistintas entre a vida profissional e a vida pessoal constituem uma nova forma de alienação profissional: os jovens trabalham mais, mas sentem-se menos empenhados nas suas actividades profissionais. A qualidade do trabalho é, pois, um fator crucial para a saúde mental.
Valores e atitudes em relação ao trabalho
A Geração Z está a introduzir um novo paradigma de valor do trabalho. Promove a autenticidade, a criatividade e o equilíbrio emocional. O local de trabalho evolui de um lugar de mera sobrevivência para um reino de auto-determinação, embora dentro de restrições que divergem das observadas no mercado grego. A tolerância do trabalho informal, apesar destes valores, reflete a profundidade da insegurança e a pressão para sobreviver.
Confiança institucional e ação colectiva
Os resultados revelam uma geração que, além de ter falta de confiança nas insituições, está pronta para agir. Embora a Geração Z pareça desconfiada em relação às instituições de proteção e à representação sindical, não rejeita o valor da organização coletiva. Estão dispostos a participar em ações colectivas, desde que considerem que as reivindicações são pertinentes e justas.
Perspetivas e futuro
Os dados traçam o retrato de uma geração com pouca confiança no presente e uma fé cautelosa no futuro. A baixa satisfação com as perspetivas de carreira e uma forte inclinação para a emigração refletem um "fosso emocional e profissional" entre os jovens e o mercado de trabalho grego. Ao mesmo tempo, a familiaridade com a inteligência artificial é destacada, indicando uma geração que compreende a mudança mas receia não beneficiar dela. Por último, a impossibilidade de constituir família nas atuais condições de trabalho revela que a precariedade não se limita ao nível profissional, correndo-se o risco de transformar a incerteza numa constante da vida.
De uma forma geral, a investigação capta uma nova condição social e laboral: uma geração instruída, sensível e madura em termos de valores, mas que vive num regime de baixas expetativas e de incerteza estrutural. A perspetiva de uma nova fuga de cérebros surge como uma possibilidade. Sem melhorar os salários, reforçar a estabilidade, reconstruir a proteção coletiva e investir na saúde mental e na aprendizagem, nenhuma política de recuperação de cérebros pode ter êxito. A Geração Z não está apenas a reclamar um emprego: está à procura de um futuro com significado e justo.
ERTNews/Publicado a 12 Novembro de 2025 10:42 GMT
Edição e Tradução Joana Bénard da Costa