Cesarianas a pedido da mãe causam controvérsia no Reino Unido
As novas determinações do National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE), segundo as quais os hospitais britânicos não devem recusar uma cesariana às mães que o pedirem, estão a causar alguma polémica no Reino Unido. Para o NICE, a redução do número de cesarianas deve ser atingida por uma mais correta informação das pacientes e não pela recusa pura e simples do procedimento.
Atualmente, diz o jornal The Guardian, a percentagem de cesarianas no Reino Unido é de cerca de 25 por cento, sendo que os valores europeus oscilam entre os 14 por cento dos países nórdicos e os 40 por cento em Itália. "Portugal é um dos países europeus com maior taxa de cesarianas. Nas maternidades do Serviço Nacional de Saúde, em 2009, a taxa de cesarianas foi de 33,2 por cento, com crescimento de ano para ano", disse a ministra da Saúde Ana Jorge, em Outubro de 2010.
Com as novas determinações do NICE, a taxa de cesarianas pode vir a aumentar no Reino Unido, têm defendido vários especialistas. Mas o instituto defende-se dizendo que a informação correta é a melhor forma de reduzir este tipo de procedimento cirúrgico, porque muitas mulheres pedem aos seus médicos a realização da cesariana, sem que exista um critério clínico, facto que tem de ser contrariado com mais e melhor informação. O trauma com partos anteriores pode mesmo originar tocofobia, o medo irracional da gravidez e do parto.
Mas ao contrário do que possa parecer, diz o NICE, a opção pela cesariana envolve riscos acrescidos para a saúde da mãe e para o bebé. Esses riscos incluem menor protecção do recém-nascido às infecções, problemas respiratórios, para além de um período mais alargado de recuperação da mãe. "A cesariana é uma grande cirurgia. É tão grande como uma histerectomia, a seguir à qual a pessoa vai para casa e não faz nada durante seis semanas, e alguns empregadores não esperam recuperação antes dos seis meses", disse ao The Guardian Malcolm Griffiths, obstetra e ginecologista do hospital Luton and Dunstable, que chefiou a comissão do NICE que criou as novas instruções. "Depois de uma cesariana, a mulher vai para casa depois de dois dias e ainda tem um bebé para cuidar".
A maioria das mulheres que pede uma cesariana tem razões físicas ou mentais para o fazer, pelo que uma melhor informação sobre os riscos deste tipo de cirurgia poderá ajudá-las a não ter medo de enfrentar um parto normal. "[Se forem informadas] as mulheres optarão pelo procedimento mais seguro", disse ao The Guardian Nina Khazaezadeh, parteira no hospital de St Thomas. "Há muita ansiedade relacionada com a falta de informação e de conhecimento".