Em direto
Guerra no Médio Oriente. A escalada do conflito entre Irão e Israel ao minuto

Greve dos enfermeiros já adiou 2657 cirurgias

por Mário Aleixo - RTP
A bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, ao lado do dirigente do Sindepor Ulisses Rolim durante a greve junto ao Hospital de Santa Maria, em Lisboa, na passada sexta-feira Miguel A. Lopes - Lusa

A greve dos enfermeiros em blocos operatórios, a decorrer desde 31 de janeiro, levou ao adiamento de 56 por cento das 4.782 cirurgias previstas na primeira semana, indica um balanço do Ministério da Saúde. Até 8 de fevereiro, a paralisação, marcada até ao fim do mês, provocou o adiamento de 2.657 intervenções nos centros hospitalares abrangidos.

Segundo o balanço semanal do Ministério da Saúde, o maior número de cirurgias adiadas registou-se no Centro Hospitalar Universitário de São João, no Porto (adiadas 823 das 1.226 cirurgias previstas – 67 por cento), seguindo-se o Centro Hospitalar Universitário do Porto (adiadas 607 das 977 cirurgias previstas - 62 por cento), o Centro Hospitalar Entre-Douro e Vouga (adiadas 362 das 586 cirurgias previstas – 62 por cento), o Hospital de Braga (adiadas 305 das 666 cirurgias previstas - 46 por cento), o Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia e Espinho (adiadas 270 das 615 cirurgias previstas – 44 por cento), o Centro Hospitalar de Tondela e Viseu (adiadas 140 das 332 cirurgias previstas - 42 porcen) e o Hospital Garcia de Orta, em Almada, (adiadas 106 das 232 cirurgias previstas - 46 por cento). O Ministério da Saúde considera como dados provisórios os referentes ao Hospital de Braga e ao Centro Hospitalar Universitário de Coimbra.


Em 8 de fevereiro juntaram-se à greve cirúrgica o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, que no balanço do Ministério da Saúde regista 33 cirurgias adiadas das 114 previstas (29 por cento), o Centro Hospitalar de Setúbal (adiadas 11 das 34 cirurgias previstas - 32 por cento) e o Centro Hospitalar Universitário de Coimbra, sobre o qual o balanço do Ministério da Saúde não regista números de cirurgias previstas nem das adiadas.

O Conselho de Ministros decretou na passada quinta-feira uma requisição civil na greve dos enfermeiros em blocos operatórios, alegando incumprimento da prestação de serviços mínimos.

A requisição civil foi feita aos enfermeiros do Centro Hospitalar e Universitário de S. João, Centro Hospitalar e Universitário do Porto, Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga e Centro Hospitalar de Tondela-Viseu.

Na segunda-feira, o Sindicato Democrático dos Enfermeiros (Sindepor), uma das duas estruturas que convocaram a paralisação, entregou no Supremo Tribunal Administrativo uma intimação para proteção de direitos, liberdades e garantias da classe, contestando a requisição civil.
Em entrevista ao Bom Dia Portugal da RTP, Nelson Cordeiro argumenta que os enfermeiros aguardam a análise do tribunal sobre a legitimidade da requisição civil.
Enfermeiros dizem não haver incumprimento dos serviços mínimos
Nelson Cordeiro, do Movimento “Greve Cirúrgica”, argumentou que “não há qualquer indicação” de que os enfermeiros dos três centros hospitalares que entram em greve no dia 8 de fevereiro estejam em incumprimento dos serviços mínimos decretados pelo tribunal arbitral. É a reação perante a possibilidade de o Governo avançar com outra requisição civil, alargando o leque de unidades de saúde abrangidas.

O Governo avançou já com uma requisição civil referente a quatro centros hospitalares. A ministra da Saúde argumentou que poderão existir mais casos de incumprimento dos serviços mínimos, já com a requisição civil em vigor.

Em entrevista ao Bom Dia Portugal da RTP, Nelson Cordeiro não admite essa ideia e adianta que cabe aos sindicatos determinar os enfermeiros que vão realizar as operações prioritárias e, caso isso não aconteça, cabe às administrações hospitalares fazê-lo. “Em última instância, será sempre responsabilidade do Conselho de Administração em convocar os enfermeiros para assumir as salas necessárias para operar esses ditos doentes urgentes”, reforça.

O representante do movimento “Greve Cirúrgica” argumenta ainda que há muitas situações que “têm de ser clarificadas”, nomeadamente uma alteração ao longo do dia do nível de urgência das cirurgias, o que torna “complicado” os enfermeiros garantirem os serviços mínimos.

Para esta terça-feira está marcada uma reunião do movimento de contestação com a bastonária da Ordem dos Enfermeiros. Uma reunião marcada na passada semana, no dia em que foi anunciada a requisição civil decretada pelo Governo, e que vai ainda contar com a presença dos enfermeiros-chefes das unidades onde decorre a greve.

Ana Rita Cavaco argumentou que o encontro deveria servir para fazer um ponto de situação do protesto e averiguar se os enfermeiros têm dados que apontem para o não cumprimento dos serviços mínimos.

A primeira “greve cirúrgica” decorreu em blocos operatórios de cinco centros hospitalares entre 22 de novembro e 31 de dezembro de 2018, tendo levado ao adiamento de mais de 7.500 cirurgias.

As duas greves foram convocadas após um movimento de enfermeiros ter lançado recolhas de fundos numa plataforma online para financiar as paralisações, num total de 740 mil euros.

Segundo os sindicatos, os principais pontos de discórdia são o descongelamento das progressões na carreira e o aumento do salário base dos enfermeiros.
pub