Médico julgado por laqueação de trompas sem consentimento garante ter obtido acordo verbal
Porto, 02 Abr (Lusa) - O médico que começou hoje a ser julgado por alegadamente ter efectuado a laqueação das trompas de uma mulher sem o seu consentimento, defendeu-se em tribunal dizendo que informou a paciente e obteve o seu acordo verbal.
"Eu falei com a senhora e expliquei-lhe a situação claramente", referiu Raul Nogueira, antigo chefe de serviço de obstetrícia na Maternidade Júlio Dinis, acrescentando que a paciente "entendeu muito bem".
O médico, agora reformado, está a ser julgado pelo Tribunal de São João Novo pelo crime de ofensa à integridade física grave por, durante uma cesariana em Outubro de 2001, ter laqueado as trompas de Falópio de Maria Ferreira sem a autorização da paciente.
O arguido contou que durante a cesariana constatou que o útero da parturiente "rompeu irregularmente" com o nascimento da criança, ficando "fragilizado" e correndo "risco de ruptura elevado" numa gravidez posterior.
O médico garantiu ter explicado à paciente, que se encontrava "consciente", que devia "fazer a laqueação das trompas para não poder ter mais filhos", obtendo desta resposta afirmativa.
"A senhora disse-me `se é como diz então é melhor fazer`", destacou.
Durante a primeira sessão, o tribunal também ouviu Maria Ferreira, que negou ter tido qualquer informação, por parte do médico, enquanto estava a ser submetida à cesariana.
"Nada me foi dito", alegou a parturiente.
A demandante do processo referiu não se recordar de grande parte do procedimento, mas ter "a certeza" de que não autorizou a laqueação das trompas de Falópio, até porque "queria mais filhos".
Durante a intervenção cirúrgica, Raul Nogueira terá ainda laqueado inadvertidamente os ureteres da paciente, levando a que deixasse de urinar e a ser internada no Hospital de São João, Porto, com uma infecção generalizada e insuficiência renal.
A lesão no sistema urinário não foi detectada na Maternidade Júlio Dinis, que acabou por dar alta à paciente.
O julgamento prossegue no dia 23 de Abril, pelas 09:30, na terceira vara do Tribunal de São João Novo.