Ordem assinala gravidade de infecções oculares

O presidente do Colégio de Oftalmologia da Ordem dos Médicos admite que "alguns" dos seis casos de infecção ocular detectados no Hospital de Santa Maria, após a administração de um medicamento, possam "levar à cegueira". O Centro Hospitalar de Lisboa Norte tem em curso um inquérito para apurar as circunstâncias em que os doentes desenvolveram endoftalmite.

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A infecção instalou-se após a administração de bevacizumab, um dos medicamentos indicados para a degeneração macular RTP

Num grupo de 12 doentes com degeneração macular tratados a 17 de Julho no serviço de oftalmologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, seis desenvolveram um quadro de endoftalmite com risco de cegueira irreversível. A infecção ocular instalou-se após a administração de bevacizumab, um dos medicamentos indicados para o tratamento da denominada degeneração macular do idoso, a par do ranibizumab. A situação ditou o internamento dos doentes.

"Os doentes tiveram uma endoftalmite que está a ser tratada. Alguns casos são graves e podem levar à cegueira. Outros recuperam a sua visão. Isto acontece quer com uma injecção quer com uma catarata", afirmou à RTP o presidente do Colégio da Especialidade de Oftalmologia da Ordem dos Médicos, Florindo Esperancinha.

O responsável colocou a ênfase na "criação de boas práticas" enquanto "função da Ordem dos Médicos: "Somos adeptos de que este tipo de intervenções, neste caso estas injecções, sejam feitas nas melhores condições de assepsia e não feitas em condições que nos possam levar a estes casos".

Em declarações à agência Lusa, o bastonário da Ordem dos Médicos defendeu o rápido apuramento do caso. Para Pedro Nunes, "tem de se estudar se é uma infecção ou não para se perceber a dimensão da sua causa".

"Uma infecção numa zona dessa natureza é sempre algo potencialmente muito grave porque é uma cavidade fechada com poucas defesas naturais. Se foi injectado dentro do olho um micróbio que se desenvolve e faz a chamada endoftalmite, uma inflamação ou injecção dentro do olho, é sempre uma doença grave, não é uma coisa simples, mas tem um tratamento que é um procedimento cirúrgico", explicou o bastonário.

Inquérito em curso

O Centro Hospitalar de Lisboa Norte garante que "estão em curso todas as diligências no sentido de garantir o tratamento adequado" dos seis doentes em risco de cegueira permanente.

"A Direcção Clínica suscitou os procedimentos internos e externos com vista ao apuramento integral dos factos que determinaram esta ocorrência", adiantavam na noite de terça-feira os responsáveis pelo complexo hospitalar.

O fármaco administrado na passada sexta-feira está a ser submetido a análises laboratoriais por parte do Infarmed, após a "notificação do evento" ao Sistema Nacional de Farmacovigilância. Por sua vez, a Inspecção-Geral das Actividades em Saúde fez saber que tenciona questionar o Hospital de Santa Maria sobre os casos de endoftalmite.

Ministra da Saúde lamenta

A ministra da Saúde, Ana Jorge, e o director clínico do Hospital de Santa Maria, João Correia da Cunha, garantem que os casos estão a ser averiguados. Ambos lamentam a situação de risco em que os seis doentes se encontram.

"O Ministério da Saúde foi informado pelo Hospital de Santa Maria sobre aquilo que tinha acontecido e, obviamente, lamentamos muito o sucedido, porque é algo que ninguém gosta que aconteça. Estamos a acompanhar e o Hospital de Santa Maria está a averiguar tudo o que se passa", declarou ontem Ana Jorge.

Após a reacção da ministra da Saúde, o director clínico do Hospital de Santa Maria procurou explicar os contornos do caso: "Na sequência da administração do fármaco, verificou-se uma complicação ocular, que levou a que alguns doentes tivessem de ser internados. Esses doentes estão a ser acompanhados, estamos a tratar adequadamente a situação e, ao mesmo tempo, a fazer a averiguação e o enquadramento das causas possíveis".

Questionado sobre um eventual erro médico, João Correia da Cunha recusou alargar-se em comentários. Trata-se, segundo o responsável, "de uma situação evolutiva". "Tudo o que eu diga seria antecipar-me a conclusões que serão tiradas oportunamente", concluiu.

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