Quem todos os dias sai de casa e olha ao seu redor tem a impressão de um mundo estático ou a evoluir muito lentamente. Deparamo-nos por vezes com carros mais modernos, algumas engenharias mais promissoras, telemóveis mais inteligentes, mas na curta duração das nossas vidas, não damoss muita importância à velocidade da evolução tecnológica.
Prova disso mesmo é a notícia que esta quarta-feira a Google deu a conhecer ao apresentar ao mundo um computador quântico, que realiza operações milhares de vezes mais rápidas que um já potente computador, mesmo com a tecnologia recentemente avançada da AMD com um processador de 64 core.
Ao contrário da computação clássica, que existe nos computadores ou nos smartphones, a computação quântica é baseada nas propriedades da mecânica quântica.
Um chip Sycamore (10 milimetros) montado na placa de circuito impresso durante o processo de embalagem. Foto: Google/DR
Como resultado, os computadores quânticos podem potencialmente resolver problemas que seriam muito difíceis ou até mesmo impossíveis para os computadores clássicos - como projetar baterias melhores, descobrir quais as melhores moléculas para produzir medicamentos eficazes, entre outras aplicações.
Este tipo de computação também poderia ajudar a melhorar as tecnologias avançadas já existentes, como a autoaprendizagem (inteligência artificial).
Resolvido em 200 segundos o que demoraria 10 mil anos
Esta quarta-feira, a revista científica Nature publicou os resultados do trabalho executado pela Google na construção de um computador quântico - que pode executar uma tarefa que nenhum computador clássico pode.
De acordo com o CEO da Google Sundar Pichai este novo sistema é conhecido nesta área como "supremacia quântica".
“Em termos práticos, o nosso chip, a que chamamos de Sycamore, realizou uma computação em 200 segundos, que o supercomputador mais rápido do mundo levaria 10.000 anos a resolver.
Conjunto de chips Sycamore em testes elétricos preliminares. Foto: Google/DR
Esta conquista é o resultado de anos de pesquisa e da dedicação de muitas pessoas. É também o início de uma nova jornada: descobrir como pôr esta tecnologia a funcionar. Estamos a trabalhar com a comunidade de pesquisa e temos ferramentas de código aberto para permitir que outros trabalhem ao nosso lado para identificar novas aplicações”, refere Sundar Pichai.
No início dos anos 80, Richard Feynman sugeriu que a construção de um computador quântico seria uma ferramenta eficaz para resolver problemas de física e química, visto que é extremamente caro e moroso simular grandes sistemas quânticos com computadores clássicos.
Mas para realizar a visão de Feynman primeiro teríamos de resolver desafios experimentais e teóricos de monta.
Primeiro: Seria possível criar um sistema quântico para executar um cálculo num espaço computacional suficientemente grande e com uma taxa de erro suficientemente baixa para fornecer uma velocidade quântica?
Segundo: Poderíamos equacionar um problema que é difícil para um computador clássico, mas fácil para um computador quântico?
Com a resolução destas duas questões basilares no processador qubit supercondutor, os engenheiros da Google ultrapassaram duas importantes barreiras na computação clássica.
"A nossa experiencia atinge a supremacia quântica, um marco no caminho para a computação quântica em escala real", refere o CEO da Google no estudo apresentado pelo artigo na Nature.
A supremacia quântica também anuncia a era das tecnologias quânticas de escala intermédia (NISQ) ruidosas. A tarefa de benchmark que a Google agora apresenta demonstra que tem aplicação imediata na geração de números aleatórios certificáveis; outros usos iniciais para essa nova capacidade computacional podem incluir otimização, aprendizagem, bem como tratamento de matéria sobre a ciência dos materiais e química.