Virgin Galactic dá a conhecer a nova SpaceShipTwo

por Nuno Patrício - RTP
Foto: Lucy Nicholson - Reuters

A Virgin Galactic revela um novo veículo espacial, depois do acidente que provocou a morte a um dos dois pilotos de teste, em outubro de 2014.

Foi com muita pompa e circunstância que Richard Branson, dono da Virgin Galactic apresentou o segundo aparelho reutilizável espacial: SpaceShipTwo (SST).

Esta apresentação ao mundo surge depois do desastre que ocorreu a 31 outubro de 2014, com a primeira versão deste modelo, a VSS Enterprise. Devido a um erro na manobra de voo, logo após a separação do "avião-mãe", que a transportou até cerca de 14 quilómetros de altitude, a nave desintegrou-se, provocando a morte ao copiloto Michael Alsbury e ferindo gravemente o piloto Peter Siebold.

Esta sexta-feira, a cerimónia contou mais uma vez com Richard Branson, montado em cima de um SUV, que rebocou o veículo espacial (SST). Tudo isto sob a voz do famoso astrofísico Stephen Hawking, em crescendo, até ser revelado o nome do novo veículo suborbital comercial — a unidade VSS (Virgin Space Ship).

O evento decorreu na Virgin Galactic, Mojave Air & Space Port, a cerca de 150 quilómetros a norte de Los Angeles.


Na conferência de imprensa realizada pouco antes da inauguração, o CEO da companhia Virgin Galactic, George Whitesides, disse que "este dia é muito importante para toda a equipa, que passou por momentos difíceis e que agora está realmente animada quanto ao futuro. Por esta razão, este evento é um grande momento para a empresa", disse.

A nova unidade VSS foi batizada pela neta de Branson, Eva-Deia, no dia em que esta completava um ano de idade, com a clara ajuda de alguns adultos.

O batismo aconteceu não com a tradicional garrafa de champanhe, mas sim com uma garrafa de leite sobre o casco frontal da nave.

Depois da explosão do primeiro modelo da série SpaceShipTwo, da Virgin Galactic, o multimiliomário Richard Browson não desistiu da ideia de criar um transporte privado espacial para levar seres humanos até ao espaço.

Richard Browson volta agora a apresentar á imprensa o segundo veículo da Virgin Galactic, como a mesma designação SpaceShipTwo , mas em versão melhorada e sem os problemas que o primeiro modelo teve, dizem os dirigentes da marca.



Após a cerimónia, a multidão inteira cantou "Parabéns" — liderada pela famosa cantora britânica Sarah Brightman.

A nova SpaceShipTwo sempre fez parte dos projetos para frota da Virgin Galactic.  Este novo veículo espacial privado, agora revelado ao público, já se encontrava em fase de construção (cerca de 65 por cento) na altura em que se deu o acidente do primeiro modelo.
Apenas 552 humanos foram ao espaço
Desde o início da era espacial, apenas 552 humanos tiveram o privilégio de viajar acima da barreira atmosférica terrestre e atingir o espaço.

Humanos considerados especiais, visto serem os únicos a beneficiar de uma viagem de sonho, após longos treinos e quase sempre com uma carreira militar ou científica de base.


Créditos: NASA - O Astronauta Patrick da NASA agarra-se à Estação Internacional durante uma das saidas de manutençaõ da Estação Espacial.

Ao longo das últimas cinco décadas de exploração espacial humana, as agências dos Estados Unidos, da Rússia e, mais recentemente, da China inspiraram o mundo e fizeram-nos acreditar que sair da Terra é cada vez mais fácil.

Mas a pergunta que se coloca é por que motivo as agências espaciais não convidam o cidadão comum a fazer parte desta grande aventura. A resposta estará ligada ao designado custo/benefício: já debilitadas, as agências não querem arriscar.

A Virgin Galactic quer ser a primeira a mostrar que também é capaz de formar astronautas. O lema é simples: o espaço não é lugar exclusivo de alguns e Richard Branson quer democratizar o acesso em benefício da vida na TerraCCorrigir erros do passado
O novo veículo espacial é em quase tudo semelhante à primeira versão, mas procura agora incorporar sistemas de navegação que impeçam os erros que provocaram a queda do VSS Enterprise.

Segundo a investigação realizada pela U.S. National Transportation Safety Board (NTSB) aos destroços e às caixas negras do VSS Enterprise, a queda deveu-se ao acionamento prematuro do sistema de “suavização”de reentrada.


Créditos: Reuters/Kenneth Brow - Imagens captadas no dia 31 de outubro de 2014 quando a primeira SpaceShipTwo explodiu em pleno voo


As caudas laterais gémeas, que giram para cima, para aumentar o arrasto e estabilidade durante a descida, foram acionadas muito cedo, provocando um desequilíbrio no voo. O que deu origem à desintegração.

Agora o novo sistema incorpora a "incapacidade de acionar este tipo de manobra antes do período exato e proteger, desta forma, a possibilidade de um novo erro humano, o que poderia resultar num novo risco catastrófico para o veículo SpaceShipTwo, revelou o presidente da NTSB Christopher Hart numa audiência sobre o acidente, em julho passado.

A SpaceShipTwo está projetada para transportar seis passageiros, bem como os dois pilotos, em curtas viagens para o espaço sub-orbital.

Durante os voos operacionais a nova aeronave será transportada a uma altitude de cerca de 50 mil pés (15 mil metros) por um avião designado por WhiteKnightTwo que depois de largar a pequena nave, voltar à base no Novo México, de onde partiu.

Nesse ponto, motor de foguete a bordo da SpaceShipTwo será acionado e impulsionará o veículo até uma altura mínima de 62 milhas (100 quilómetros) acima da superfície da terra — o limite tradicionalmente aceite onde começa o espaço sideral.

"Os passageiros terão então a oportunidade de ver a curvatura da Terra, em contrastre com a escuridão do espaço e experimentar alguns minutos de ausência de peso", dizem os representantes da Virgin Galactic.

A SpaceShipTwo realizará então a manobra de regresso e deslizará até à superfície terrestre, onde efetuará uma aterragem numa pista, como um tradicional avião, cerca de duas horas e meia após o "avião-mãe" WhiteKnightTwo a ter transportado.
Duas horas e meia de espaço: 225 mil euros
Com este veículo e serviço, esstá assegurado a qualquer comum mortal um bilhete de ida e volta ao espaço, segundo os promotores da Virgin Galactic.

Mas para tal acontecer, o leitor que esteja interessado terá primeiramente que juntar "uns trocos", cerca de 225 mil euros, e ficar à espera de vez.



Creditos: NASA

Porque apesar do preço do bilhete, aproximadamente 90 mil euros por hora, já são umas largas centenas de pessoas, mais concretamente 550, diz a Virgin Galactic, que neste momento ocupam os primeiros lugares para ver a Terra bem lá de cima.

E se cada nave da Virgin leva apenas seis pessoas, se quiser mesmo ir, tem de se apressar.
O espaço é vez mais apetecível
A corrida privada ao espaço está cada vez acesa e a Virgin Galactic não é a única empresa a querer chegar lá acima.

A XCOR Aerospace, por exemplo, está também a construir um avião de passageiros e um foguete designado por Lynx, sendo que os bilhetes para ingressar neste outro veículo espacial rondam os 135 mil euros.

Também a Blue Origin, empresa de exploração espacial privada, liderada pelo fundador da Amazon.com, Jeff Bezos, está a trabalhar num sistema de foguete/cápsula, reutilizável, para transporte privado, já batizado de New Shepard.
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