A Imperatriz Vermelha

Quando Sternberg percebeu que Marlene não podia continuar a ser a rainha das prostitutas no cinema fez dela uma prostituta rainha num portentoso drama histórico.

No século XVIII, a jovem princesa alemã Sofia Frederica, casa com o demente Grão Duque Pedro III, da Rússia Imperial, cuja mãe, a dominadora Imperatriz, sonha em melhorar a sua linhagem real. Sofia não gosta do marido mas apaixonou-se pela Rússia e tem pelos seus soldados um carinho muito especial. Acaba por dar um herdeiro à Rússia, de paternidade algo duvidosa, e, após a morte da velha Imperatriz, dá um golpe de estado com o apoio dos militares, livra-se do marido e torna-se Czarina, tendo passado à História como como Catarina, a Grande.

Logo a seguir a ?Vénus Loira? Josef von Sternberg afirmou ter ?completamente subjugado a sua ave do paraíso à sua peculiar mania de tentar provar que um filme pode ser uma obra de arte?. Nascia, assim, ?A Imperatriz Vermelha?, em que o realizador ajustava, em certa medida, contas com a censura, no sentido em que se Marlene Dietrich não podia voltar a ser prostituta num filme então ele iria tornear a questão voltando a dar-lhe essa dimensão mas de forma elíptica e grandiosa na figura histórica de Catarina II da Rússia. Filme prodigioso, na sua concepção plástica, ?A Imperatriz Vermelha? para além da admirável concepção de ?mise en scène? e do milimétrico controlo da imagem fascina, sobretudo, pela sumptuosidade dos décors, que Sternberg montou com a ajuda do escultor suíço Ballbush e do pintor alemão Kollorz. Um autêntico delírio barroco, incompreendido na sua época, mas que é hoje reconhecida como uma das obras mais notáveis da lendária associação de Sternberg a Marlene.