AS FACES DE HARRY

Um universo de sarcasmos, cinismos, ironias e saborosas observações num filme surpreendente e irresistível, de e com Woody Allen

Harry Block, um escritor de sucesso, atravessa um perído de bloqueio criativo. Os seus livros retratam a sua vida pessoal, as pessoas que o cercam, os segredos de cada um, as suas intimidades com eles e até a forma como se serve deles para criar as suas ficções. Harry é um homem detestado pelas suas três mulheres, pelos seus seis psicanalistas, amigos e familiares. Quando a sua antiga universidade - que em tempos o expulsou - se lembra de o homenagear, Harry não consegue encontrar ninguém que o queira acompanhar. Acaba por aparecer na companhia de uma prostituta que contratou, de um amigo que apanhou pelo caminho e do filho que sequestrou.

Woody Allen tem uma portentosa capacidade de se repetir e reinventar de filme para filme com impressionante originalidade. Em “As Faces de Harry” é um escritor neurótico, detestável e detestado que obtém sucessos literários usando e abusando de toda a gente que conhece, mulheres, amigos e família, cujas vidas manipula, descreve, cita, subverte e reinventa nos seus livros. Uma viagem à sua velha universidade para uma homenagem vai permitir ao escritor evocar, reflectir e confrontar-se com as suas memórias e com a sua imaginação. Um engenhoso pretexto para Woody percorrer um universo de sarcasmos, cinismos, ironias e saborosas observações sobre vários dos seus temas favoritos, como o amor, a vida, a morte, a religião e ele próprio. Tudo isto, orquestrado de forma absolutamente surpreendente num filme recheado de complexidades técnicas, da sua incrível montagem repetitiva e abrupta a alguns efeitos visuais sofisticados, como a história do actor que está sempre desfocado, e servido por uma impressionante lista de conhecidos interpretes.