O ÚLTIMO FIORDE
No Fiorde do Mar de Barents o bacalhau é o recurso mais precioso.
O fiorde é o abrigo. As duas longas e gigantescas paredes de rocha e gelo que se abrem em ¿v¿ para o Mar de Barents abraçam quem se recolhe no seu interior. Um terno abraço, protector dos ventos gelados da Sibéria e do Ártico que quando sopram forte fazem crescer no mar alto, muitas vezes, as ondas alterosas inimigas dos pescadores. Ronny tem 24 anos. É o mais jovem tripulante do ¿Havsvalen¿, a ¿ave do mar¿. Nos tempos livres cultiva o sonho de ser guitarrista numa banda rock. Mas não acredita que alguma vez o sonho o
alimentará tanto como o bacalhau. É pescador porque é na pesca que pode ganhar mais dinheiro. No final do dia, partilhará com os companheiros de jornada Jens Einar e Bjorn Johnny os rendimentos da faina à linha. Levará para casa o equivalente a 400 euros.
É na Primavera que o bacalhau rende mais aos pescadores de
Batsfjord. Por causa das baixas temperaturas do mar de Barents, raramente acima dos 3 graus Centígrados, mas principalmente porque é nesta altura do ano que os cardumes de capelim procuram as águas inóspitas do extremo Norte da Europa. E o bacalhau adora capelim.
Não há muitos lugares assim, na Terra. Batsfjord fica longe
de tudo, perto do nada. Os invernos escuros e gélidos duram três meses, o Sol da meia noite, outros tantos. Tromso, a cidade mais importante do Norte da Noruega, está longe, a 800 quilómetros de distância. Por isso, quem decide escolher um sítio destes para viver só pode ter uma razão: o dinheiro.
Os empresários sabem disso. Fazem tudo para preservar o bem-estar dos trabalhadores. Ronald Wærnes, colaborador próximo do senhor Nilsen, diz que num sítio como Batsfjord, a indústria não compete apenas pela matéria-prima e pelo mercado. Compete também pela mão-de-obra. É preciso cuidar das pessoas. Resistir é, por isso, um acto diário de sobrevivência. E Batsfjord resiste. Deste extremo Norte da Europa saem 25% das exportações norueguesas de pescado. O bacalhau do mar de Barents é o recurso mais precioso. Não espanta, assim, que mesmo não havendo muitos portugueses a aventurar-se nestas águas, sejam as regras do imenso
mercado português de bacalhau a determinar uma boa parte da saúde económica dos homens e mulheres desta pequena cidade.
Só que o bacalhau seco e salgado que os portugueses tanto
apreciam já teve melhores dias. As alternativas estão, por isso, em marcha acelerada... a indústria volta-se agora para o bacalhau fresco e para os filetes ultra-congelados. E volta-se também... para a ciência.
No meio do fiorde, pescadores e investigadores andam num
corropio diário, em redor de vários complexos de estruturas circulares. Alguns já foram viveiros de salmão. Agora, são redes onde se cultiva o bacalhau em cativeiro. A experiência está só no começo, e as dúvidas acumulam-se sobre as certezas. Mas em Batsfjord todos têm a estranha sensação de que o futuro é por ali.
Ficha Técnica
- Título Original
- O ÚLTIMO FIORDE