BIRD - O FIM DO SONHO

Clint Eastwood produz e realiza um apaixonante drama biográfico sobre Charlie Parker, o malogrado génio do ¿beebop¿ e uma das mais marcantes personalidades do Jazz

Em 1954 o conhecido músico de Jazz, Charlie Parker, mais conhecido como "Bird", dá entrada no hospital de Bellevue em Manhattan, depois de uma tentativa de sucídio com íodo, ao que parece, motivado pelo desgosto da morte da sua filha Pree e a dificuldades com a sua carreira. Alcoólico, toxicómano e sofrendo de úlceras, Charlie, é visitado pelo seu agente que lhe oferece a possibilidade de fazer uma digressão com Chummy Morello, se for capaz de abandonar os seus perigosos vícios. A sua mulher Chan recusa o internamento de Charlie num asilo e recorda a primeira vez que o viu em 1943, no clube ¿Three Deuces¿ na rua 52 em Nova Iorque, onde ¿Bird¿ causou grande sensação tocando com a banda de Dizzy Gillespie. Entre a audiência estava Buster Franklin, que se lembra de Charlie quando tinha 16 anos em Kansas City em 1936. A vida de Charlie evolui de forma caótica, apaixonante, delirante e trágica, rumo a uma morte permatura.

Clint Eastwood junta à sua dimensão de actor-vedeta e respeitado produtor e realizador o talento de músico e compositor. Não admira, pois, que se tivesse apaixonado pelo admirável argumento de Joel Oliansky sobre a vida de um dos seus músicos favoritos, Charlie Parker, que na qualidade de produtor e realizador iria transformar num apaixonante drama biográfico que é uma sentida e sincera homenagem ao génio do ¿beebop¿ e uma das personalidades mais marcantes da História do Jazz. ¿Bird - O Fim do Sonho¿ está construido como um ¿puzzle¿ fascinante, através de uma exaustiva ordenação das crises, dispersões, angústias, tragédias, êxitos e processos de auto-destruição de Parker. Eastwood, recusando o modelo convencional do grande melodrama biográfico, assina uma versão pessoal da vida do genial saxofonista negro que revolucionou a música no seu tempo, num filme fragmentado que vai quebrando progressões psicológicas e emocionais da trajectória de Parker, retratado de forma notável numa misteriosa e fascinante amálgama de evocações. Uma bela e nostálgica homenagem ao imortal ¿Bird¿ e à sua música, que Forest Whitaker recria de forma portentosa num dos melhores papeis da sua carreira, justamente premiado no Festival de Cannes.