Filme que consagrou João César Monteiro como um dos cineastas portugueses de maior prestígio, ao vencer o Leão de Prata no Festival de Veneza em 1989
Uma irresistível e inspirada crónica sobre um tal João de Deus, marginal, poeta e louco, um "alter-ego" do realizador interpretado pelo próprio, absolutamente irresistível e patético. "Recordações da Casa Amarela" é a primeira obra da trilogia de aventuras de João de Deus, que se completa com "A Comédia de Deus" e "As Bodas de Deus".
Lisboa, 1989. Um pobre diabo de meia-idade, chamado João de Deus (João César Monteiro), vive no quarto de uma pensão barata e familiar, na zona velha e ribeirinha da cidade. Atormentado pela doença e outras vicissitudes, João de Deus alimenta-se da música de Schubert e de uma vaga cinefilia, para resistir à miséria da sua medíocre existência. Um dia, na sequência da acusação de violação da filha da dona da pensão, é posto na rua. Sozinho, doente e falido, João de Deus vê-se confrontado com a dureza da vida urbana. Acaba por ser internado num hospício, de onde sai por ponderada decisão de "homem livre", determinado a "dar-nos trabalho".
Recordações da Casa Amarela transformou João César Monteiro num dos cineastas portugueses de maior prestígio no estrangeiro, a que não é alheio o Leão de Prata conquistado no Festival de Veneza, e numa das personalidades artísticas mais sui generis do panorama nacional, a que não são alheias as suas polémicas, provocatórias e desconcertantes atitudes e declarações. Na verdade, Monteiro, é um criador inspirado de corrosivas e delirantes comédias para as quais inventou um protagonista notável, um alter ego de ficção absolutamente irresistível, truculento e patético chamado João de Deus, que ele próprio interpreta e que seria a partir de Recordações da Casa Amarela o centro de novas e hilariantes aventuras num país à beira mar plantado. Acima de tudo, Monteiro, com o seu humor muito particular, constrói a incrível trajectória de um herói lusitano através das maiores desventuras numa Lisboa tão luminosa e cristalina quanto perversa e cruel. A história de um português que foi enganado e, desde então, nunca mais deixou de nos dar trabalho. Graças a Deus e ao talento de Monteiro.