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O SILÊNCIO DAS DUNAS

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A história dos homens que descobriram que se pode pescar nas dunas. Vivem numa ilha perdida no Nordeste brasileiro e rodeados de areia por todos os lados

A visão é paradisíaca. Um oceano de dunas onde se encaixam pequenas lagoas, num horizonte a perder de vista. É por aqui, ao lado de um burro, que Joana caminha horas a fio. Sete horas de caminho, para chegar à cidade mais próxima, uma cidade perdida a Norte do Nordeste brasileiro, onde vende o seu peixe seco. Serão precisas outras sete horas de uma marcha de areia para regressar à sua ilha, com o burro carregado de legumes e outros bens alimentares. Joana faz este trajecto uma vez por mês, no meio de lado nenhum.
Há muito tempo, esta era uma terra de índios, protegidos pelas dunas; mas sopraram ventos fortes, as dunas avançaram e cobriram o mangal. Hoje, são mais de mil quilómetros quadrados de areia e água; no meio deste mar de areia espreita uma ilha verde: a ilha de Queimada, a casa de Joana.
A Queimada é um lugar deserto habitado pelos filhos daqueles que fugiram à seca no Ceará. Em toda a região vivem pouco mais de cem habitantes. Claro que não há serviços de saúde. Durante o Inverno, quem diz a missa também é Joana, porque o padre só chega aqui de burro e no Verão. Quem teve oportunidade de estudar improvisa em casa a única escola da ilha. Há quem queira um destino melhor, mas a tradição manda que os filhos fiquem com os pais.
Cercadas pelas dunas, as três famílias que habitam na ilha da Queimada são obrigadas a caminhar hora e meia para chegar à praia. Para lá das dunas, está o ganha-pão de quem investiu tudo o que tinha num pequeno barco. Nem sempre é possível, no entanto sair para o mar : quando a chuva deixar de cair, os ventos fortes vão começar a soprar fortes. Debaixo de chuva, a última pescaria do ano é ensombrada por um arrastão, ali mesmo junto à praia, e as redes trazem pouco peixe e muito lixo.
Quando o mar não permite que os barcos saiam, os habitantes da Queimada subsistem graças ao seu espírito criativo: inventaram a pesca nas dunas. Uma ideia dos habitantes desta ilha verde. Os pescadores apanham vivos os peixes que têm capacidade para sobreviver na água doce e correm durante meia-hora para chegar a tempo de os depositar com vida no lago sagrado, no meio das dunas. Este lago acaba por se transformar num viveiro, onde ninguém mexe. Os pescadores das dunas dizem que é preciso ter paciência, aguardar cinco anos, e tão só deixar crescer e para poder aproveitar o que Deus lhes deu. O tempo aqui não tem a mesma dimensão. Mesmo assim, os habitantes da Queimada têm a noção de que nos próximos vinte anos as dunas vão avançar ainda mais, ganhando o mangal da pequena ilha que lhes serve de casa.
O vento e a areia não têm amigos, dizem os pescadores das dunas, que todavia acreditam ter a riqueza dos que nada têm.

Ficha Técnica

Título Original
O SILÊNCIO DAS DUNAS