CHOREM PELA ARGENTINA
Reviver a última crise... quando as classes médias saíram à rua contra os congelamentos dos depósitos bancários
"Não chores por mim Argentina" - lembremos este título de um espectáculo musical famoso que evocava uma figura mítica de toda a América do Sul, Evita Perón. A enorme popularidade de Evita em toda a Argentina traduz muitas das contradições dos mais europeus dos estados Latino-americanos. Ela era a heroína dos "descamisados", rebeldes peronistas que muitas vezes saíam à rua brandindo as suas reivindicações; mas era também uma figura mediática, das primeiras no seu tempo, uma espécie de Marylin Monroe do populismo político; e uma mulher influente ao lado e por trás do marido, o caudilho Juan Domingo Perón.
Foi lento e violento o percurso da Argentina, desde a morte de Perón em 1974 até à democracia. Isabelita, a viúva de Perón, só pôde deixar o país soçobrar até ao golpe militar de Videla em 1976. A incrível repressão da ditadura militar, cuja dimensão só agora é realmente conhecida, veio a culminar com o afrontamento com o Reino Unido e a Guerra das Malvinas. A derrota militar veio a ser o princípio da normalização democrática. Mas e experiência democrática argentina - e o simultâneo controlo da inflação com a indexação da moeda ao dólar americano - atravessa hoje nova crise, depois de uma boa década de 90. O ex-presidente Menem vê-se acusado e julgado em tribunais. E quando o sistema financeiro entrou em colapso, noa no passado, a Presidência, o Governo e o Parlamento andaram em bolandas, fazendo temer o pior.
País extenso, riquíssimo, com uma população urbana e educada, a Argentina é uma promessa por cumprir. Entre as duas guerras, no século passado, foi uma das grandes potências económicas, atraindo imigrantes da Europa com a mesma força, quase, de uns Estados Unidos. Mas décadas de golpes e ditaduras, uma administração caótica, a guerra - tudo tem contribuído nos últimos cinquenta anos para que haja razões de sobra para chorar a Argentina.
Reviver a última crise... Quando as classes médias saíram à rua contra os congelamentos dos depósitos bancários.
A moeda na Argentina... Um país onde agora, como em tantas ocasiões no passado, o primeiro que se faz ao sair às ruas de manhã, é confirmar a cotação do Peso contra o Dólar...
A crise actual não chegou ainda a atingir a gravidade de outros tempos, em que a inflação anual ultrapassava os mil por cento...
Mas a população argentina revela um enorme cansaço com uma governação ineficaz e fórmulas que falham ciclicamente. Seja internamente, onde o sistema fiscal é uma fantasia, seja internacionalmente, em que os apoios do FMI e Banco Mundial não resolveram as questões de fundo...
O ex-primeiro-ministro espanhol Felipe Gonzalez escreveu já que se a Argentina fosse bem governada durante dez anos, e os argentinos pudessem trabalhar sem convulsões, o país conseguiria recuperar e até entrar para o clube dos países ricos.
Mas esse sonho vai longe. Vale á Argentina ser uma terra onde cereais e gado crescem quase naturalmente... É mesmo difícil que falte pão e carne em qualquer mesa argentina.
Quanto a dinheiros, talvez possamos emprestar aquela máxima... "Mais vale não chorar pelo leite derramado".
Ficha Técnica
- Título Original
- CRY FOR ARGENTINA
- Realização
- Angus Macqueen
- Ano
- 2002
- Duração
- 57 m minutos