MAYDAY: PERDIDOS NO MAR (II PARTE)

Uma investigação que demonstrou como dois navios construídos de propósito para a pesca do caranguejo se afundaram por causa de um simples erro de pintura

Dutch Harbor, Alasca. Extremo norte do continente americano. O último lugar da terra. Ou, pelo menos, o último lugar onde qualquer pessoa gostaria de pescar. Apesar da tempestade que se está a formar no horizonte, as embarcações de pesca continuam a sair para o mar. Para os pescadores, o tempo aqui apenas pode variar entre muito mau e ainda pior. E tempo é dinheiro, porque é nestas águas geladas que se encontram as maiores reservas de caranguejo.
É a mais perigosa profissão do mundo, mas uma das mais bem pagas: comentam-se casos de jovens pescadores que voltaram para casa com cinquenta mil euros no bolso, após apenas alguns meses de trabalho. Os pescadores arriscam por isso defrontar as piores condições atmosféricas do planeta com uma coragem no limiar da inconsciência. Basta uma escorregadela na carapaça de gelo que cobre os navios, ou uma onda repentina, e será a morte quase certa.
O mau tempo torna a navegação complicada e os salvamentos ainda são mais difíceis. Por isso a guarda costeira está em constante patrulhamento, em permanente alerta, sempre à espera do pior, para tentar actuar o mais rapidamente possível.
É assim que conseguem efectuar salvamentos incríveis uns atrás dos outros.
Foi o que aconteceu em 1990, quando o capitão e o contramestre do "Alaskan Monarch" foram atirados a um mar de gelo. Só a resposta pronta do helicóptero de busca e salvamento permitiu retirá-los das águas geladas antes de congelarem até á morte.
Por vezes os acidentes acontecem sem que o mar precise de intervir. Um armador da pequena vila piscatória de Anacortes, no estado norte-americano de Washington, construiu uma frota de quatro navios de propósito para a lucrativa pesca do caranguejo. Foram todos baptizados com nomes começados pela letra A. Tal como pequenos "Titanic¿s", os "A-Boats" foram concebidos para serem inafundáveis. Estavam equipados com as últimas tecnologias e as suas tripulações, embora jovens, eram já bastante experientes.
Quando todos se preparavam para uma faina milionária, dois desses navios desapareceram num mar calmo, sem qualquer sinal ou razão aparente. Só um deles seria depois encontrado, virado ao contrário e com todos os tripulantes mortos.
As possíveis explicações para esta tragédia misteriosa só surgiram depois de anos de investigações: a marca de Plimsol, a linha do bordo livre que indica a carga máxima que qualquer navio pode carregar com segurança, tinha sido pintada sessenta centímetros acima do local correcto. Os navios foram por isso sobrecarregados com covos para a pesca do caranguejo, até ficarem com a borda literalmente debaixo de água. E foi essa imprudência que depois os fez adornar.
O "Altair" e o "Americus" voltaram-se em segundos, e com eles perdeu-se toda a tripulação. Morreram no mar, sem tempo sequer para emitir um "mayday"...