De Costas Para o Mar
Bastaram vinte anos para a marinha mercante deixar de ter expressão para a economia portuguesa. Com o fim do mercado das colónias, os armadores não souberam adaptar-se às exigências do mercado internacional. Dos 116 navios da marinha de comércio de bandeira portuguesa existentes no final da década de setenta, a frota ficou reduzida a pouco mais de 20, que atualmente apenas asseguram as rotas entre o continente e as ilhas.
Um desses já raros navios que ainda hasteia a bandeira convencional portuguesa é o "Açor B". A bordo está Andreia Elviro, com 21 anos. Praticante do curso de Pilotagem da Escola Náutica Infante D. Henrique, também ela é das poucas pessoas que hoje escolhem o mar como opção profissional.
"O que é que me custa mais? Os fins-de-semana. Não estar com os meus amigos aos fins-de-semana, não ir ao cinema, não ir aos bares, não dar uma volta à noite, acho que é isso que mais me custa. Tipo, a minha, entre aspas, liberdade... Porque aqui não tenho essas coisas ao pé de mim"- diz a futura piloto.
O facto é que a Escola Náutica não tem os alunos que já teve, apesar de praticamente garantir o primeiro emprego... Os alunos são pouco mais de quinhentos, quando já foram mais de mil. Algumas especialidades, como é o caso de Engenharia Naval, ficam mais desertas de ano para ano, apesar da procura de oficiais ser tão intensa que alguns armadores contratam logo alunos no final do terceiro ano.
Sediada em Paço de Arcos, face à barra do Tejo, a Escola Náutica é a única que forma oficiais da marinha mercante. É também a legítima herdeira da "Escola de Sagres", fundada pelo Infante D. Henrique há 500 anos. Sem alunos a quem ensinar a arte de navegar portuguesa, os professores desta escola temem pelo fim da transmissão dos seus conhecimentos. Mas a lenta agonia que a Escola Náutica tem vivido nos últimos 20 anos apenas reflete o estado da marinha mercante nacional.
Uma reportagem de Patrícia Pedrosa, com imagem de António Antunes e Paulo Freire, edição de imagem de Namorado Freire e pós-produção audio de António Garcia. Produção de Maria João Rolão Preto.
Ficha Técnica
- Título Original
- De Costas Para o Mar
- Ano
- 2003