O OURIÇO NO NEVOEIRO

Uma pequena fábula sobre um ouriço-cacheiro que uma noite foi ao encontro do seu amigo ursinho com a intenção de passarem um bom bocado a contar as estrelas do céu...

Depois de a GARÇA E CEGONHA, Youri Norstein e a sua equipa familiar, decidiram produzir um filme ?acessível?. O escritor Sergey Kozlov apresentou uma pequena fábula sobre um ouriço-cacheiro que uma noite, como era habitual, foi ao encontro do seu amigo ursinho com a intenção de passarem um bom bocado a contar as estrelas do céu. Mas, as coisas não pareciam fáceis no capítulo da criatividade e quanto mais pensavam no argumento, menos ideias apareciam.
Entretanto, apesar da equipa ser constituída apenas pelo autor, pela sua mulher e pelo operador de imagem, os Estúdios da Soyuzmultfilm impuseram-lhes um ritmo de produção idêntico ao de equipas com 30 ou mais profissionais. Resultado, no dia previsto, ou melhor, imposto, apenas 20% do filme estava pronto. Mais uma vez, a arte confrontava a burocracia e o projecto foi para a prateleira. Os dias passaram e numa reunião do Partido Comunista onde os membros da equipa deveriam ser repreendidos, o operador Zhukovsky, que chegou mais cedo com uma garrafa de vodka, convenceu o projeccionista a ficar até depois da sua hora e insistiu que os membros da direcção vissem o que estava feito. Os 60 membros acabaram por concordar que o filme devia avançar sem mais problemas.
Enfim?mais uma vez, para a História do cinema soviético, ficou como uma das obras mais vistas dentro e fora de portas.
Ironicamente, quase podemos dizer que a mitologia gerada ao redor de alguns filmes beneficiou da incompreensão face aos seus valores de produção, quando não mesmo da pura e simples repressão, sendo que geralmente o feitiço voltou-se contra os feiticeiros.
Infelizmente, não só nos países de Leste.