O RIO

Uma insólita crónica familiar que é um grande exemplo da excelência do actual cinema de Taiwan.

Xiao, um jovem de Taiwan, encontra por acaso uma amiga que o leva até ao local de rodagem de um filme em que onde ela trabalha. Xiao aceita substituir um manequim e passa algum tempo a fazer de cadáver, sobre as águas negras de um esgoto na baía de Taipé. No dia seguinte, Xiao sofre de terríveis dores que o obrigam a consultar vários médicos. Nenhum consegue descobrir a razão do seu mal estar e o pai de Xiao acaba por o levar até aos curandeiros e aos sacerdotes tradicionais. Por fim Xiao acaba numa sauna onde os homens se entregam a relações homossexuais e onde ele e o pai se vão redescobrir de forma absoluta e radical.

Premiado no Festival de Berlim de 1997, "O Rio" é uma realização dum cineasta de Taiwan, Tsai Ming-Liang, que constrói uma insólita, perturbadora e incisiva crónica sobre uma vulgar família de Taipé. A partir da bizarra e inexplicável doença de um jovem, que nenhum médico consegue tratar e cujo pai o leva em peregrinação aos tradicionais lugares de culto chineses, Ming-Liang cria uma autêntica fábula psicológica, que é no limite uma hermética e complexa metáfora sobre a actual sociedade de Taiwan, centrada numa família em desagregação: a mãe que se entrega a um amante de ocasião, o pai a uma homossexualidade irresistível e o filho a uma desesperante doença que evolui serena e implacavelmente como a corrente de um rio. Tudo isto filmado de forma absolutamente surpreendente, entre o realismo quase documental e um avassalador naturalismo, onde imperam os longos e silenciosos planos-sequência, a obsessão do pormenor e um delirante domínio plástico. Um filme invulgar, desconcertante e bizarro, da autoria de um grande autor oriental.