O invulgar Peter Greenaway a cruzar corpos e desejos, sentimentos e emoções num filme de uma deslumbrante beleza visual, que revela um imenso fascínio pela cultura oriental
Nagiko, uma jovem e bela japonesa, recorda o seu pai, um escritor que por ocasião de cada um dos seus aniversários lhe escrevia sobre o rosto curtas histórias. Desse tempo, ainda se recorda, amargamente, de como o pai tinha de se prostituir junto do seu editor homossexual para conseguir vender as suas obras. Após um casamento desastroso, Nagiko, parte para Hong Kong onde se torna manequim, e inicia a sua obsessiva busca de um amante calígrafo, capaz de satisfazer os seus desejos sexuais e de escrever sobre a sua pele os mais belos textos. Após vários casos frustrantes conhece Jerome, um jovem escritor inglês, que lhe sugere o contrário: ser ela própria a escrever sobre o corpo dos seus amantes. E Jerome será o primeiro de uma série de 13 livros que ela irá propôr ao editor do seu pai.
Peter Greenaway, pintor, encenador, escritor, cineasta e apaixonado pela matemática, é um dos criadores mais "sui generis" que a Inglaterra produziu nas últimas décadas. De "O Contrato" a "O Bebé de Macon", passando por "O Cozinheiro, o Ladrão, a sua Mulher e o Amante Dela" ou "Os Livros de Próspero", Greenaway tem produzido uma obra cinematográfica de uma fabulosa dimensão plástica e de uma admirável riqueza estética e temática. "O Livro de Cabeceira" não é exceção, e é mesmo um dos seus filmes mais simples, o que no universo de Greenaway não significa linear ou de fácil acessibilidade. Continuando a criar cada plano como um quadro e servindo-se de esquemas narrativos que são genuínas peças de arquitectura, Greenaway assume, neste filme, o seu imenso fascínio pela cultura oriental, ao contar a história da bela japonesa que escreve sobre o corpo dos seus amantes para consumar uma sinuosa vingança. Greenaway cruza os corpos e os desejos, os sentimentos e as emoções, num filme de uma deslumbrante beleza visual, onde a imagem é trabalhada de forma invulgar através de múltiplas subdivisões do écran. A morte e o sexo, como temas centrais, de um fabuloso jogo de diversões literárias e caligráficas, onde o corpo da obra é o próprio corpo.