O BRAVO

Johnny Depp no seu filme de estreia na realização a reflectir sobre a miséria humana e moral da América.

Raphael, um índio americano sem trabalho, instala-se com a mulher e os dois filhos numa barraca na orla de uma cidade. Raphael está disposto a tudo para tirar a família da miséria mais humilhante e aceita um trabalho demencial. O misterioso McCarthy está disposto a pagar-lhe 50 mil dólares para ele se deixar matar num filme clandestino. Raphael recebe o dinheiro, enche a família de prendas e tenta assegurar o seu bem estar antes de assumir o seu triste destino.

Seleccionado para o Festival de Cannes de 1997, “O Bravo” é a primeira longa metragem de Johnny Depp. Partindo da adaptação ao cinema de um romance de Gregory McDonald, Depp constrói um insólito drama humano, onde se reflectem complexas e distintas vertentes da deplorável miséria humana e moral da América contemporânea. Um índio com uma vida miserável aceita morrer num filme clandestino para melhorar a vida da sua família. “O Bravo” de Depp é, pois, um amargo e cruel olhar sobre o vergonhoso extermínio da população índia dos Estados Unidos que continua, depois da Conquista do Oeste e da vida nas reservas, a revestir-se de novas e desconcertantes formas. Neste caso, a decisão de um homem que aceita deixar- -se matar para ganhar dinheiro, sem se interrogar seriamente se um punhado de dólares vale mais para a mulher e os filhos que ele próprio. Depois, Depp reflecte ainda sobre o valor de uma sociedade que gosta de filmes com mortes reais e se diverte a ver a agonia alheia, com um sentido de insólito surrealismo a que não é alheia a influência dos cineastas mais marcantes da sua carreira: Jarmush, Kusturica e Tim Burton. Depp assume ainda o principal papel ao lado de Elpidia Carrillo e de Marlon Brando.