Hannah Arendt é um retrato do génio que abalou o mundo com a sua tese sobre a "banalidade do mal"
O filme de Margarethe von Trotta é o retrato de Hannah Arendt, filósofa e jornalista judia, um génio incompreendido, que se atreveu a fazer uma reflexão sobre o Holocausto de forma absolutamente inovadora e que, mesmo debaixo do jugo de ferozes críticas, se manteve fiel às suas convicções.
Hannah Arendt, filósofa e jornalista judia, exilou-se nos EUA em 1941, após a fuga do campo de concentração de Gurs, durante os anos negros da Segunda Grande Guerra. Em 1951,ao obter a cidadania norte-america, publica o livro "As Origens do Totalitarismo". Foi esta a obra que lançou a sua carreira nos Estados Unidos, tornando-se uma forte referência junto da comunidade intelectual.
Após assistir ao julgamento do nazi Adolf Eichmann, em Jerusalém, Arendt atreve-se a escrever sobre o Holocausto em termos inauditos.
O seu trabalho provoca imediatamente o escândalo mas Arendt mantém-se firme ao ser atacada tanto por inimigos, quanto por amigos. Mas enquanto a emigrante germano-judia procura reprimir as suas próprias associações dolorosas com o passado, o filme expõe a sua mistura encantadora de arrogância e vulnerabilidade, revelando uma alma definida e perturbada pelo exílio. O filme retrata Hannah Arendt (Barbara Sukowa) ao longo dos quatro anos (1961 a 1964) em que ela observa, escreve e suporta a reação ao seu trabalho acerca do julgamento do criminoso de guerra nazi Adolf Eichmann.
Ao observarmos Arendt enquanto ela assiste ao julgamento, ao estarmos ao seu lado enquanto é simultaneamente metralhada pelos seus críticos e apoiada por um grupo unido de amigos fiéis, sentimos a intensidade desta forte judia que fugiu da Alemanha nazi em 1933. Arendt, impetuosa e fumadora inveterada, é feliz e bem-sucedida nos EUA, mas a sua visão penetrante torna-a numa forasteira onde quer que vá. Quando Arendt ouve falar de que os serviços secretos israelitas raptaram Adolf Eichmann, em Buenos Aires, e o levaram para Jerusalém, fica determinada em relatar o julgamento. William Shawn (Nicholas Woodeson), o editor da revista "The New Yorker", fica radiante por ter uma intelectual de tanto valor a cobrir o processo histórico, mas o marido de Arendt, Heinrich Blucher (Axel Milberg), não tem tanta certeza. Preocupa-o que esse encontro reenvie a sua amada Hannah para o que ambos chamam os "tempos negros". Arendt entra no tenso tribunal de Jerusalém esperando ver um monstro e, em vez disso, encontra um zé-ninguém. É difícil conciliar a mediocridade superficial do homem com a maldade profunda dos seus atos, mas Arendt apercebe-se rapidamente de que esse contraste é o quebra-cabeças que tem de ser resolvido. Arendt regressa a Nova Iorque e, ao começar a discutir a sua interpretação inovadora de Adolf Eichmann, o medo começa a tomar conta do seu melhor amigo, Hans Jonas (Ulrich Noethen). Ele avisa que a abordagem filosófica dela vai apenas causar confusão. Mas Arendt defende a sua perspetiva corajosa e original e Heinrich apoia-a inteiramente. Após dois anos de reflexão intensa, leituras complementares e mais debate com a sua melhor amiga americana, Mary McCarthy (Janet McTeer), a sua amiga e investigadora alemã Lotte Kohler (Julia Jentsch) e, é claro, o aconselhamento constante com Heinrich, ela entrega finalmente o manuscrito. A publicação do artigo na "The New Yorker" provoca um escândalo imediato nos EUA, em Israel e, rapidamente, no resto do mundo.
Este documentário permite perceber a importância profunda das suas ideias. Mas ainda mais comovente é a oportunidade de compreender o coração caloroso e o brilhantismo gélido desta mulher complexa e profundamente arrebatadora.