A Promessa

A ignóbil e vergonhosa exploração do trabalho de emigrantes clandestinos, num filme que atravessa a má consciência da Europa desenvolvida.

Roger ganha a vida num subúrbio de Liége fazendo entrar no país trabalhadores clandestinos, cujo trabalho explora de forma ignóbil, auxiliado pelo seu filho Igor, de quinze anos de idade. Um dia um africano morre num acidente de trabalho aos pés de Igor, obrigando o garoto a prometer-lhe tomar conta da mulher e do filho que deixa sem sustento. Igor para cumprir a sua promessa entra em rota de colisão com o pai e com o universo de clandestinidade, mentira, exploração e crime que ele nunca questionou.

Co-produção entre a França, a Bélgica e o Luxemburgo, "A Promessa" é uma excelente realização dos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne que abordam de forma impressionante e cruel uma vergonhosa realidade europeia dos nossos dias: a exploração do trabalho de emigrantes clandestinos. Os irmãos Dardenne, que no passado já tinham realizado documentários de intervenção social e política, assinam um drama social de perturbador naturalismo sobre o caso de um adolescente que se revolta contra o Mundo de mentira, ilegalidade, exploração e violência em que vive com o seu pai, devido a uma promessa que fez a um infeliz trabalhador negro que morreu num acidente. Um filme construido sem efeitos dramáticos artificiais que regista cruelmente todo o universo de miséria, de sacrifício, de sonhos frustrados e de vergonhosa exploração a que se sujeitam os infelizes do Terceiro Mundo que rumaram ao "El Dorado" europeu em busca de trabalho e caíram nas mãos dos novos "negreiros". Um filme de uma corajosa e urgente atualidade que atravessa a má consciência da Europa, da Bélgica a Portugal, que nada tenta demonstrar ou denunciar de forma militante, para tudo mostrar de forma sórdida e impressionante, exemplarmente servido por um elenco na sua quase totalidade de atores amadores.