Almas Perdidas

Um intenso e perturbador drama sobre uma demencial relação amorosa que Dino Risi transforma num thriller psicológico em tons kafkianos, com Vittorio Gassman e Catherine Deneuve.

Tino, um jovem estudante de pintura, chega a Veneza e instala-se na casa do seu tio Fábio. Este, é casado com a bela Elisa, uma mulher muito mais nova que ele e a quem ele trata como uma criança. Às vezes com autoridade, outras vezes com desprezo. No seu quarto, Tino, começa a ouvir estranhos ruídos e descobre que certas salas da casa estão abandonadas. Sob a orientação da criada, Tino, fica a saber que num desses quartos vive Berto, o irmão louco do tio. Finalmente, Tino, compreende que Berto não existe e é o seu tio Fábio que assume a personalidade do irmão louco, ao mesmo tempo que nunca foi capaz de reconhecer que Elisa deixou de ser uma criança.

Partindo, curiosamente, da adaptação ao cinema de um romance de Giovanni Arpino, o mesmo de "Perfume de Mulher", Dino Risi assina, todavia, um filme sombrio e perturbador. Assim, longe das suas típicas atmosferas de sátira corrosiva e do seu humor cínico, Risi, constrói um filme sobre uma mórbida paixão que se desenrola em Veneza. Esta é a história de um homem perturbado que assume a dupla personalidade de um suposto irmão louco, há muito fechado no sótão da casa. Na verdade, trata-se da história de uma relação amorosa, exacerbada e mórbida, que um jovem sobrinho vai descobrindo e descodificando ao longo de uma série de inesperadas revelações. Risi, no fundo, cria uma espécie de thriller psicológico em tom kafkiano, pleno de suspense e de situações inquietantes, a que Veneza empresta uma dimensão bizarra e delirante. Vittorio Gassman é, mais uma vez, admirável, aqui ao lado de Catherine Deneuve, num filme dirigido com mestria e rigor, onde se destacam o magnífico trabalho de fotografia de Tonino Delli Colli e a música de Francis Lai.