PAU DE SANGUE

Uma fábula surpreendente de Flora Gomes sobre a simplicidade e riqueza da vida tradicional em África.

Numa remota aldeia de África, uma mulher dá à luz gémeos. Imediatamente são plantadas duas árvores, como é tradição. Um dos gémeos, Dou, deixa a aldeia e regressa por ocasião da morte do seu irmão. Uma das árvores morre também, parecendo ditar o destino da comunidade, a braços com a seca, que parte em busca de uma vida melhor. O êxodo resulta num enorme sofrimento para todos que acabam por regressar ao ponto de partida e ao encontro de uma esperança renascida.

O cineasta da Guiné-Bissau Flora Gomes já tinha comprovado a sua qualidade de grande cronista do quotidiano do seu país, primeiro de forma assumidamente documental em "Mortu Nega" e depois na hábil combinação do retrato sócio-político com o melodrama romântico em "Os Olhos Azuis de Yonta". Agora, com "Pau de Sangue", Gomes acrescenta uma nova dimensão ao seu cinema, a de fascinante contador de fábulas. Porém, fábulas realistas, alicerçadas na realidade da África moderna em desarmonia com a África tradicional, onde o povo é sempre a maior vítima. A história dos dois irmãos e das duas árvores, dos nascimentos celebrados com a plantação de árvores, ou seja, a harmonia do Homem com a Natureza na África profunda e tradicional, é o que Gomes coloca em destaque neste seu fascinante, sensível e inteligente conto africano, que passa para lá das artificiais fronteiras do rescaldo colonial. Gomes celebra a África e a sua cultura ancestral, a sua simplicidade perdida e o seu espírito de comunidade, curiosamente numa co-produção entre dois países africanos, Guiné-Bissau e Tunísia, e dois países europeus, França e Portugal. Destaque para o belíssimo trabalho de direcção de fotografia, da autoria de Vincenzo Marano.