África do Sul compara esboço de acordo climático ao apartheid

por Carlos Santos Neves - RTP
“É como o <i>apartheid</i>”, reagiu Nozipho Joyce Mxakato-Diseko, delegada da África do Sul à reunião preparatória da cimeira de Paris sobre o combate ao aquecimento global NASA

Começou debaixo de nuvens carregadas, na Alemanha, a derradeira semana de negociações do acordo global de combate às alterações climáticas que deverá ser assinado em dezembro na cimeira de Paris. À cabeça do bloco de economias emergentes, a delegação sul-africana descreveu esta segunda-feira o projeto de texto da ONU como uma forma de apartheid. Teme-se que o documento resulte tão complexo como inaplicável.

O argumento de Nozipho Joyce Mxakato-Diseko foi exposto em nome de um bloco de 130 economias ditas emergentes, a que se soma a China: o texto de 20 páginas em análise na Alemanha foi avaliado como estando muito aquém das reivindicações daqueles países.A Cimeira Mundial do Clima de 2015 decorre em paralelo com a conferência da ONU sobre alterações climáticas – COP21 – de 30 de novembro a 11 de dezembro em Paris.


“É como o apartheid”, afirmou a delegada sul-africana, para quem os interesses dos mais pobres foram negligenciados no projeto das Nações Unidas para o acordo global a assinar em dezembro na capital francesa.

Segundo o bloco representado por Mxakato-Diseko, o projeto de acordo, concebido por dois altos diplomatas, acabaria por favorecer os países mais prósperos, ao omitir que caberia a estes últimos liderar os cortes nas emissões de gases com efeito de estufa. E reforçar a cooperação com as nações menos desenvolvidas, desde logo no sector das energias limpas.

A posição assumida pela delegação sul-africana deu frutos. As exigências de dimensão nacional terão agora de ser reintroduzidas no projeto de acordo, o que poderá levar a que o texto regresse à sua versão original de 80 páginas.

Entre os negociadores de Bona, há já quem tema a produção de um texto final muito difícil de interpretar. E de aplicar.
“Não há tempo a perder”

Otimista, Christiana Figueres, secretária executiva das Nações Unidas com o dossier das alterações climáticas, disse-se convencida, em entrevista à Reuters, de que haverá um acordo ao cair do pano sobre os trabalhos de Paris.

“Talvez a reação aqui tenha acontecido porque fomos de um texto que continha demasiado a um texto com muito pouco”, temperou a diplomata costa-riquenha.
Mas também os países mais ricos estão insatisfeitos. Neste caso, com o nível de empenho das nações em desenvolvimento. Citado pela mesma agência, o chefe da delegação dos Estados Unidos, Trigg Talley, não foi além do jargão diplomático, ao classificar o projeto de acordo como uma simples base para conversações.

“Este documento contém muitas coisas com as quais a maioria das partes não pode concordar”, sintetizou o norte-americano.

A partir da Eslováquia, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, deixou, por sua vez, mais um aviso aos negociadores destacados para Bona: “Não há tempo a perder”.

“Tem sido bastante frustrante ver negociadores a negociarem apenas com base em muito estreitas perspetivas nacionais. Este não é um assunto nacional. É um tema global”, advertiu.
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