Bob Dylan vence o Prémio Nobel da Literatura

por Andreia Martins - RTP
Reuters

A Academia Sueca atribuiu esta quinta-feira o Nobel da Literatura ao músico e escritor Bob Dylan, por ter criado "novas formas de expressão poética" no quadro da "grande tradição da música americana".

O anúncio aconteceu ao início da tarde de quinta-feira pela Academia Sueca, em Estocolmo, e surpeendeu os jornalistas presentes. É uma distinção sem precendentes na história do mais alto galardão literário e que premeia as letras do histórico cantor norte-americano de 75 anos.

O último Nobel da Literatura atribuído a um autor oriundo dos Estados Unidos aconteceu há mais de 20 anos, em 1993, quando Toni Morrison foi distinguido.

Bob Dylan tornou-se figura célebre da música popular norte-americana com canções como Blowin' in the Wind, The Times They are A-Chagin', A Hard Rain's A-Gonna FallAll Along the Watchtower, Mr Tambourine Man ou Like a Rolling Stone, ambas editadas nos anos 60, muito conotadas com os movimentos de protesto contra a guerra bem como os grupos de defesa dos direitos civis da comunidade afroamericana. As letras foram escritas quando Dylan tinha pouco mais de 20 anos.

Robert Allen Zimmerman, nome original do cantautor com ascendência judaica, nasceu a 24 de maio de 1941 na cidade de Dululth, no Minnesota. Mais conhecido pela carreira musical com mais de cinco décadas, Bob Dylan publicou também vários livros de poesia e letras de músicas, o mais conhecido publicado logo em 1971. Bob Dylan atuou pela última vez em Portugal na edição de 2008 do festival Optimus Alive.

"Tarântula" (editado em Portugal pela Quasi Edições) foi escrito na última metade da década de 60 e é uma conjugação da criação poética e prosa experimental, um livro sobretudo de escrita reflexiva em monólogo e que o cantor viria a admitir que "nunca planeou escrever".


Diogo Louçã Rodrigues, Catarina Dias Ribeiro, Carlos Oliveira, Mário Santos - RTP

Publicou também dois livros com letras de canções, editados em Portugal pela Relógio D'Água, publicados nos EUA entre 1962 e 2001. O primeiro volume da sua autobiografia, "Crónicas", foi editado pela Ulisseia.

Desde muito novo, logo nos anos 60, Bob Dylan transformou-se num ícone cultural e político de várias gerações e de uma época.

Numa antiga entrevista ao programa 60 Minutes da CBS, em 2004, quando confrontado com o facto de ser considerado por muitos “um profeta”, a voz da sua geração, Dylan confessa que se vê apenas como um simples músico: “Sentes-te um impostor quando alguém acha que és uma coisa que não és”.
Um rasgo na tradição
Recuando aos vários Nobel da Literatura atribuídos ao longo de mais de um século, esta é talvez a maior surpresa pela distinção de um escritor que é aclamado sobretudo pela carreira de compositor e que mais foge ao modelo tradicional de escolha pela Academia.

O espanto com que é recebida esta notícia talvez seja somente comparado a 1953, com a atribuição do Nobel da Literatura a Winston Churchill, autor de obras sobre a II Guerra Mundial.

No ano passado, foi a escrita não-ficcional da bielorrussa Svetlana Alexievich a vencer o Nobel da Literatura. Autora de livros como Vozes de Chernobyl (editado em Portugal pela Elsinore) e O Fim do Homem Soviético (Porto Editora), regista e dá voz aos testemunhos reais de quem viveu os grandes momentos definidores da União Soviética.
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