Faleceu José Fonseca e Costa aos 82 anos

por Graça Andrade Ramos - RTP
José Fonseca e Costa RTP

O cineasta morreu vítima de uma pneumonia, internado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Kilas, o Mau da Fita, de 1980, é o seu maior sucesso junto do público. Cinco Dias, Cinco Noites, de 1996, O Fascínio (2003), Viúva Rica Solteira Não Fica (2006) e Os Mistérios de Lisboa or What the Tourist Should See (2009), são várias das suas obras que marcaram o cinema português do final do século XX.

O cineasta morreu vítima de uma pneumonia quando estava internado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa na sequência de uma pré-leucemia.

Avançada pela edição online do semanário Expresso, a notícia foi confirmada à Lusa por Paulo Branco.

O produtor adiantou que, apesar de já estar doente, o realizador decidiu avançar com o seu mais recente projeto, "que era muito importante para ele".

O último filme do realizador, Axilas, baseia-se num conto do escritor Ruben da Fonseca e tem como produtor Paulo Branco e argumentista Mário Botequilha.
Vida
Nascido em Caála, Angola, a 27 de junho de 1933, José Fonseca e Costa começou por fazer crítica cinematográfica nas revistas Imagem e Seara Nova, em Lisboa, para onde se mudara em 1945 para estudar Direito.

Traduziu igualmente para português algumas obras mas o seu amor era a realização.

Em 1985, concorreu a uma vaga como assistente de realização da Rádio e Televisão de Portugal, quando esta foi fundada em 1958. Ganhou o primeiro lugar mas foi impedido pela PIDE de entrar nas instalações.

Em 1960 viu recusada uma bolsa de estudo solicitada ao Fundo do Cinema Nacional, para estudar cinema no Reino Unido. Pouco depois seria detido, por participação em acções contra o Estado Novo.

Exilou-se em Itália onde se tornou assistente estagiário de Michelangelo Antonioni, na longa-metragem L'Eclisse.
Obra
De novo em Portugal, em 1964, produziu e dirigiu filmes publicitários e realizou  vários documentários, sobre a indústria e o turismo. Pioneiro no Novo Cinema, em Portugal, em 1972 estreou-se como realizador de ficção com O Recado.

Seguiram-se em 1975 Os Demónios de Alcácer Kibir assim como As Armas e o Povo,que conjuga imagens gravadas entre 25 de Abril e 1 de maio de 1974.

A descolonização foi tratada no documentário Independência de Angola – os Acordos de Alvor, o Governo de Transição, em 1977 

Na televisão filmou com Ivone Silva - Ivone a faz-tudo - em 1979.

Kilas, o Mau da Fita
, de 1980, é o seu maior sucesso junto do público. Cinco Dias, Cinco Noites, em 1996, é outro grande sucesso, sendo adaptado da obra de Manuel Tiago (pseudónimo de Álvaro Cunhal) e premiado no Festival de Gramado e nos Globos de Ouro e seleccionado para o Montreal World Film Festival.

O Fascínio (2003), Viúva Rica Solteira Não Fica (2006) e Os Mistérios de Lisboa or What the Tourist Should See (2009), adaptado do guia turístico escrito por Fernando Pessoa em 1925, foram obras marcantes.

Entrevistado no telejornal da RTP, António Pedro Vasconcelos, grande amigo do cineasta, lamenta que José Fonseca e Costa tenha feito apenas 10 filmes em 50 anos de carreira e culpa "o sistema".

Carreira
Fonseca e Costa foi ainda dirigente do Centro Português de Cinema, da Associação de Realizadores de Cinema e Audiovisuais e presidente do Conselho de Administração da Tobis Portuguesa, entre 1992 e 1996.

Eleito para o Conselho de Opinião da RTP, em 2000, encenou ainda em 2012 a peça de teatro O Libertino, no Teatro da Trindade, em Lisboa.

Era irmão da actriz Cucha Carvalheiro e tio-avô da apresentadora Carolina Patrocínio. Divorciado, teve dois filhos, Ana Lúcia e João Pedro, e três netos, José Pedro, Francisco e Júlia.
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