Cameron admite referendar laços com União Europeia

por Graça Andrade Ramos, RTP
David Cameron admitiu pela primeira vez vir a referendar as ligações entre Reino Unido e União Europeia Julien Warnand, EPA

Pressionado por eurocéticos dentro do seu próprio Partido Conservador, o primeiro-ministro britânico admite pela primeira vez a realização de um referendo sobre as relações entre Reino Unido e União Europeia. Reconhecendo que ele próprio, como a maioria dos cidadãos britânicos, quer uma mudança nas relações com o bloco europeu, David Cameron sublinha no entanto que "estão em causa os interesses da Grã-Bretanha". Por isso, afirma, poderá vir a ser realizado um referendo, "mas não para já".

A prioridade, para o primeiro ministro britânico, é decidir "o que queremos e como o alcançar". E só depois se deve discutir se se faz um referendo ou se a questão é decidida nas urnas, na eleição de um próximo governo.

David Cameron explica por isso, no jornal The Sunday Telegraph, a sua visão sobre as vantagens e desvantagens de estar na UE. E para o Reino Unido, o principal interesse da Europa é o potencial comercial, sustenta o chefe de governo. "Teremos de considerar qual a melhor forma de conseguir o apoio total do povo britânico, seja numa eleição legislativa ou num referendo", considera o chefe de governo da Grã-Bretanha.
"As duas palavras Europa e referendo podem andar ligadas, sobretudo se formos realmente propor uma mudança na forma como o nosso país é governado, mas primeiro temos de dar às pessoas uma verdadeira escolha", acrescenta Cameron.


No texto do The Sunday Telegraph, David Cameron sublinha as vantagens de um acesso sem barreiras aos mercados da Europa e de se ter uma voz na forma como são decididas as regras desses mercado.

Cameron admite também que a crise da zona euro e suas consequências nas relações entre os Estados-membros, precisam ser estudadas antes de qualquer decisão.

Num recado direto aos eurocéticos dentro dos Conservadores, David Cameron lembra, "precisamos de saber muito bem o que realmente queremos, o que temos agora e qual a melhor forma de conseguir o que é melhor para a Grã-Bretanha. Devemos responder a estas questões antes de saltarmos para o problema dos referendos".
"Relação certa"
"É vital para o nosso país - para a força da nossa economia, para a saúde da nossa democracia e para a influência da nossa nação - que tenhamos a relação certa com a Europa", afirma Cameron.

E é por isso que discorda "dos que dizem que devíamos sair e que por isso defendem a realização em breve de um referendo dentro/fora. Sair não seria do interesse do nosso país".

Por outro lado, um "sim" à UE iria fechar a porta a longo prazo aos defensores da saída da Europa e "quaisquer tentativas futuras de alterar as relações com a União levariam a protestos de que o povo britânico já se tinha pronunciado", acrescenta Cameron.
"Renegociar" a relação com UE
O que não quer dizer que os britânicos não tenham nada a dizer. "Não sou contra referendos na nossa democracia parlamentar", afirma Cameron, pois, "quando há transferência de poderes é correto questionar as pessoas".Para o primeiro ministro britânico é possível garantir os interesses do seu país, "salvaguardar o mercado único e ficar de fora de uma Europa federal".
Como exemplo dá a Cimeira de sexta feira, na qual afirma ter assegurado a independência dos bancos britânicos face ao Banco Central Europeu. "Não teremos de apoiar os bancos gregos ou portugueses e os nossos bancos serão regulados pelo Banco de Inglaterra e não pelo BCE", afirma. Como vantagem de estar na União, Cameron lembra que Londres assegurou esta semana que terá uma das três sedes onde serão registadas patentes únicas para toda a Europa.


O primeiro-ministro acrescenta: "Também não sou contra referendos sobre a Europa. O último governo devia ter realizado um referendo sobre o Tratado de Lisboa".

A alternativa é assim, "renegociar" a relação. "O que eu quero - e o que eu acredito que a grande maioria do povo britânico quer - é fazer alterações no nosso relacionamento", diz Cameron.

O primeiro-ministro britânico critica nomeadamente o "excesso de Europa" para quem está fora da zona euro.

"Excesso de custos, excesso de burocracia, excesso de intervenção em questões que pertencem aos estados nacionais ou à sociedade civil e aos indivíduos. Blocos inteiros de legislação sobre questões sociais, tempo laboral e assuntos internos deviam, a meu ver, ser desmantelados", defende Cameron.
"Paciência táctica"
Por outro lado, é necessário reconhecer que a Europa está a "mudar e rapidamente".

A moeda única está a levar a uma integração cada vez mais profunda o que leva a mudanças nas relações internas da União Europeia, afirma David Cameron, sublinhando que a vantagem de "estar de fora" é recusar aquilo que "não queremos" como os fundos de resgate.

Para o chefe do governo britânico é necessária uma "paciência tática e estratégica", face à crise da zona euro e ao facto de o atual governo do Reino Unido ser uma coligação, prometendo Cameron por fim continuar a "trabalhar para uma posição diferente, mais flexível e menos onerosa, do Reino Unido dentro da União Europeia".
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