Diretores da rádio e TV públicas da Guiné-Bissau afastados porque "não se adequaram às orientações"

por Lusa

Bissau, 24 ago (Lusa) - O primeiro-ministro da Guiné-Bissau, Baciro Djá, afastou hoje os diretores da rádio e televisão do Estado por estes não se terem adequado a novas orientações, refere em despacho.

"Tendo em conta a necessidade de imprimir novas orientações aos órgãos públicos de comunicação e tendo em consideração que os atuais responsáveis não se adequaram às orientações emitidas (...), não se apresentam em condições de liderar esta nova fase", escreve-se no despacho assinado por Baciro Djá.

Entre as orientações, está uma indicação expressa de que a Rádio Difusão Nacional (RDN) e a Televisão da Guiné-Bissau (TGB) devem servir para "serenar os ânimos".

O despacho evoca logo no início "o imperativo de os órgãos de comunicação social, particularmente os públicos, contribuírem para serenar os ânimos da atual situação política, em benefício da paz e da tranquilidade sociais".

Hoje mesmo, o presidente do Parlamento, Cipriano Cassamá, referiu que as instalações da Assembleia Nacional Popular (ANP) foram violadas e que o equipamento da RDN foi desmontado, impedindo que o debate de urgência sobre a situação política esteja a ser transmitido em direto.

O presidente do Parlamento classificou a situação de "muito grave" e disse que ia tentar recorrer a estações privadas para difundir o debate.

Califa Soares Cassamá, que assumiu hoje funções como diretor da RDN, negou à Lusa que tenha havido ordens para a estação deixar de transmitir o debate e disse que "o que estava previsto era montar o equipamento da ANP na Presidência da República para transmitir a tomada de posse do Governo", apesar de ainda não haver data marcada, referiu.

Questionado sobre o facto de o debate em curso continuar a não estar no ar, Califa Cassamá referiu que tal deixou de ser possível porque os elementos da RDN foram entretanto impedidos de estar no edifício da ANP.

Todos os debates parlamentares têm sido transmitidos pela RDN nos últimos meses, inclusivamente os que foram realizados na primeira quinzena de agosto, período em que a crise política estalou e em que os deputados foram especialmente críticos com o Presidente da República face à intenção de demitir o Governo de Simões Pereira.

O mediatismo foi criticado pelo Presidente Vaz no discurso em que justificou a demissão do Executivo, dizendo que se criou um "circo mediático na augusta casa do povo, merecendo ampla cobertura pelos órgãos públicos de comunicação social, sendo transmitido em direto na Rádio Difusão Nacional (RDN) e em diferido na televisão pública, de manhã, tarde e noite".

"Como diz o ditado, uma pequena mentira, repetida mil vezes, transforma-se em grande verdade", referiu na altura José Mário Vaz, questionando a forma como foram debatidas as suas posições enquanto chefe de Estado.

Califa Cassamá, correspondente da RDP África (canal estatal português), substitui Muniro Conté na coordenação rádio nacional, enquanto Eusébio Nunes, jornalista da Televisão da Guiné-Bissau, substitui Paula Melo à frente do canal.

As nomeações sujeitam-se à deliberação do Conselho de Ministros, após a constituição do Governo, conclui o despacho de hoje.

 

 

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