Israel instaura inquérito interno às mortes da flotilha de Gaza

Israel instaurou um inquérito interno às circunstâncias que rodeiam as mortes de nove activistas, ocorridas durante um raide de comandos a uma flotilha que rumava a Gaza com ajuda humanitária. O Estado judaico tinha-se anteriormente recusado a aceitar um inquérito das Nações Unidas ao caso, mas concordou agora em incluir dois observadores internacionais no seu inquérito doméstico.

RTP /
Benjamin Netanyahu explicou objectivos da comissão de inquérito israelita às mortes da flotilha de Gaza. Baz ratner, EPA

Nove activistas turcos foram mortos e dezenas de pessoas feridas a tiro quando a 31 de Maio comandos israelitas abordaram o navio almirante da flotilha em águas internacionais. Os navios tinham como objectivo furar o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza, a fim de entregarem directamente aos palestinianos 10.000 toneladas de ajuda humanitária.

Israel diz que as suas tropas dispararam em legitima defesa, quando foram atacados pelos ocupantes a bordo do navio. Já os activistas alegam que os soldados abriram fogo sem qualquer provocação.

A comissão de inquérito israelita foi aprovada esta segunda-feira pelo governo de Jerusalém. O painel vai ser liderado por um antigo juiz do Supremo Tribunal de 75 anos, Yaakov Tirkel. Segundo a imprensa israelita, este ex-magistrado tem fama de ser um jurista conservador, de espírito independente, que mesmo antes da sua nomeação se pronunciou publicamente contra toda a ideia de sanções.

A comissão será ainda composta pelo professor de lei internacional Shabtai Rosen, de 93 anos e pelo general na reserva Amos Horev de 86 anos.

Os dois observadores internacionais, que não terão direito a voto, serão David Trimble, antigo chefe do partido unionista do Ulster e prémio Nobel da Paz com 66 anos e Ken Watkin de 59 anos, ex-advogado geral do exército canadiano.

Segundo a imprensa israelita, lorde Trimble, um conservador protestante, participou recentemente no lançamento da iniciativa "Amigos de Israel", um grupo de personalidades internacionais que defende o direito de Israel a existir.

Direito internacional O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu explicou que esta "comissão pública independente" se destina a responder a dois imperativos: "Preservar a liberdade de acção dos nossos soldados e provar que as nossas acções foram de carácter defensivo, e por isso justificadas", no plano do direito internacional.

Netanyahu, confirmou também que os membros da comissão não seriam autorizados a interrogar directamente os militares implicados no raide, à excepção do chefe do estado-maior israelita, Gaby Ashkenazi.

Basicamente o trabalho da comissão consistirá em examinar a conformidade do raide israelita e do bloqueio marítimo de Gaza com  o direito internacional.

Os trabalhos vão decorrer em paralelo com os de uma outra comissão de inquérito, esta de carácter militar, chefiada pelo general na reserva Giora Eiland e composta por uma "equipa de peritos", todos generais na reserva, que terá até 4 de Julho para apresentar as suas próprias conclusões.

A operação "Brisa Marinha" desencadeou uma profunda crise diplomática entre Israel e a Turquia e provocou a indignação da comunidade internacional.

Um porta-voz do Governo de Washigton já veio declarar que a instauração da comissão de inquérito israelita representa "um importante passo em frente ".

Já a Turquia, pela voz do ministro dos Negócios Estrangeiros Ahmet Dvutoglu, manifestou opinião diversa: "Não temos qualquer confiança em que Israel, um país que levou a cabo um ataque como este a um comboio civil, em águas internacionais, vá conduzir uma investigação imparcial", declarou o responsável pela diplomacia turca.

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