Mesquita no Quebeque alvo de ataque terrorista

por Andreia Martins - RTP
Mathieu Belanger - Reuters

Seis pessoas morreram e oito ficaram feridas na noite de domingo (madrugada de segunda-feira em Lisboa) quando dois homens armados entraram no Centro Cultural Islâmico da cidade do Quebeque, no Canadá. Encontravam-se na mesquita cerca de 50 pessoas no momento do ataque.

Dois homens encapuzados entraram na mesquita de Sainte Foy por volta das 19h15 (00h15 em Lisboa). A polícia confirma que os dois principais suspeitos já foram detidos, mas não revelou quaisquer detalhes sobre a sua identidade e os motivos que desencadearam este ataque.

O primeiro-ministro do Quebeque, Philippe Couillard, classificou o ataque como "terrorista". No Twitter, Couillard rejeita "categoricamente a violência bárbara deste ataque" e pede a união dos quebenses e a solidariedade para com todos os habitantes de credo muçulmano.


Em declarações à imprensa, Couillard diz que é difícil acreditar que este ataque tenha acontecido "numa cidade tão pacífica" como o Quebeque.

A polícia garante que a situação está "sob controlo" e diz que apenas duas pessoas estiveram envolvidas no ataque. Os dois principais suspeitos já foram detidos pelas autoridades.

Segundo o jornal Le Soleil, um dos suspeitos carregava uma espingarda de assalto AK-47.
Ataque "cobarde"
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, também condenou o ataque, que designou como uma ofensiva direta à comunidade muçulmana.

"Esta noite os canadianos lamentam os mortos num cobarde ataque numa mesquita da cidade do Quebeque. Os meus pensamentos estão com as vítimas e as suas famílias", escreveu Trudeau na sua conta de Twitter.

No comunicado divulgado esta segunda-feira, Justin Trudeau oferece as condolências às famílias e amigos das vítimas.

"Enquanto as autoridades continuam a investigar e os detalhes estão ainda por ser confirmados, é doloroso assistir a esta violência sem sentido. A diversidade é a nossa força, e a tolerância religiosa é um valor que nós temos, enquanto canadianos", completa o governante.

Durante o fim de semana, o primeiro-ministro canadiano escrevia também na rede social que o Canadá estaria disponível a acolher aqueles que são rejeitados pelos Estados Unidos. As recentes políticas adotadas por Donald Trump dificultam a entrada no país de imigrantes e refugiados muçulmanos, mesmo que detentores de visto. 

"Para aqueles que fogem de perseguições, terrorismo e guerra, os canadianos vão receber-vos, independentemente da vossa fé. A diversidade é a nossa força", acrescentando uma fotografia do momento em que recebia uma criança síria no aeroporto de Toronto.


Desde a entrada em funções da nova administração norte-americana, o país vizinho mostrou-se desde logo disponivel a receber mais refugiados.

Uma abertura e disponibilidade de acolhimento que já não são novidade no primeiro-ministro canadiano. Desde a eleição no final de 2015, Justin Trudeau supervisionou a chegada de mais de 39 mil refugiados sírios ao país.
Nova Iorque reforça segurança
Na sequência deste ataque, Bill de Blasio, mayor de Nova Iorque, já ordenou o reforço da segurança em várias mesquitas da cidade.

"Todos os nova-iorquinos devem estar vigilantes. Se virem alguma coisa, comuniquem", tweetou o responsável.

Quem também já reagiu a este ataque foi o Presidente francês, François Hollande condenou o atentado e diz que os terroristas quiseram "atacar o espírito de paz e tolerância dos cidadãos do Quebeque".

No comunicado emitido esta manhã, Hollande fala de um ataque "odioso" e diz estar "ao lado das vítimas e das suas famílias".

Federica Mogherini, alta-representante de Bruxelas para a política externa e segurança, reitera que "a União Europeia está com o Canadá e está com os canadianos neste dia triste".

Também Portugal já condenou o ataque deste domingo. Em declarações à agência Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros, diz que "todos os atentados terroristas são condenáveis".

Augusto Santos Silva refere ainda que a luta contra o terrorismo "deve ser contra todas as formas, seja qual for a sua orientação política, seja qual for a sua inspiração religiosa".

"Todas são formas bárbaras, que violam direitos básicos de cidadãos indefesos", sublinha o chefe da diplomacia portuguesa.

Entretanto, também o Presidente da República repudiou o ataque. Marcelo Rebelo de Sousa condena o "bárbaro ataque"

Numa mensagem colocada no site da Presidência da República, o chefe de Estado transmitiu "toda a solidariedade para com o povo canadiano e para com as famílias das vítimas".
Ataque inédito
Com normas mais restritas no que diz respeito à posse de armas, os tiroteios são bem menos frequentes no Canadá, em comparação com o país vizinho.

"É um dia triste para todos os quebequenses e canadianos que assistem a um ataque terrorista a acontecer numa cidade pacífica como o Quebeque. Espero que se trate de um incidente isolado", declarou Mohamed Yacoub, um dos responsáveis pela comunidade islâmica de Montereal, citado pela agência Reuters.


O Centro Cultural Islâmico atacado este domingo fica na região residencial de Sainte-Foy, no Quebeque. Foto: Andre Pichette - EPA

Nos últimos anos, o Canadá regista um crescendo nos episódios de islamofobia. O debate sobre o uso de niqab foi central aquando das eleições federais em 2015.

Também em 2015, um dia após os ataques terroristas de Paris em novembro, uma mesquita foi incendiada em Ontario.

A mesquita atacada este domingo, situada no bairro residencial de Sainte-Foy, tinha também sido alvo de vários atos de vandalismo e mensagens xenófobas nos últimos meses.

Em junho, durante o mês do Ramadão, foi deixada uma cabeça de porco no edifício visado este domingo pelos atiradores. O consumo de carne suína e derivados é proibído pelo Islão.

É a primeira vez que um ataque mostífero desta natureza atinge uma mesquita no Canadá, onde a população de religião muçulmana chega a 1,1 milhão de pessoas, segundo o gabinete estatal de estatísticas citado pela Agência France-Presse.

(com agências)
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