Obama dá força à pista terrorista no massacre de San Bernardino

Depois das suspeitas lançadas a noite passada sobre a possibilidade de o ataque sangrento a um centro social de Ban Bernardino, na Califórnia, ter sido uma acção terrorista, vem já hoje Barack Obama admitir que essa é uma hipótese considerada na Casa Branca. Estas considerações do presidente americano ganham tanto mais força quanto foram proferidas no alinhamento de uma reunião do Conselho de Segurança Nacional em Washington.

Paulo Alexandre Amaral - RTP /
Mike Blake, Reuters

Dois elementos armados entraram esta quarta-feira num centro social de apoio a pessoas com deficiência, em San Bernardino, onde na altura decorria uma festa, fortemente armados e atirando a matar. Fizeram 14 vítimas mortais e 17 feridos.San Bernardino é uma cidade com cerca de 200 mil habitantes situada no Estado norte-americano da Califórnia. Fica cerca de 100 km a leste de Los Angeles.

Mais tarde, ainda durante a tarde (hora americana), foram abatidos dentro do carro onde ensaiavam a tentativa de fuga. As autoridades identificaram-nos como um casal: Syed Rizwan Farook e Tashfeen Malik. Tinham uma filha de seis meses.

Farook era inspetor ambiental e trabalhava para o departamento de saúde do condado de San Bernardino há cinco anos, o que estará a baralhar as conclusões da polícia e das agências de informações.

Syed Rizwan Farook não estava sinalizado como potencial membro de grupos terroristas e não constava sequer das listas do FBI.
Obama fala de terrorismo
“É possível [que se tenha tratado de um acto terrorista] mas nós não sabemos”, declarou Obama, depois de também a polícia de San Bernardino ter admitido que essa era uma explicação que não podia ser descartada.

“É possível que este incidente esteja relacionado com terrorismo, mas não sabemos. Também é possível que tenha a ver com assuntos laborais”, afirmou Obama numa conferência a partir da Sala Oval, após ter reunido com seus conselheiros de segurança.

Obama acrescentou que os atiradores podem ter tido “vários motivos”, o que poderá vir a complicar a investigação: “Sabemos que os dois indivíduos que morreram estavam equipados com armas e pareciam ter acesso a armas adicionais em sua casa. Mas não sabemos por que fizeram aquilo”.

“Nós não sabemos neste momento a extensão dos seus planos. Não sabemos das suas motivações”, sublinhou o Presidente americano.

Inicialmente, ainda durante a tarde de ontem (noite em Lisboa), Obama condenava os ataques, mas colocando-os na sua agenda da luta contra a venda arbitrária de armas no país.

Numa intervenção difundida pela televisão CBS News, Obama pedia um esforço bipartidário para acabar com este tipo de tragédias: “Ainda não conhecemos a motivação dos atiradores, mas o que sabemos é que há coisas que podemos fazer para tornar a vida dos americanos mais segura e também que devemos caminhar numa base bipartidária a todos os níveis da governação para fazer com que estes (acontecimentos) sejam raros em oposição à normalidade”, declarou o presidente, na altura com um enquadramento diferente.
Disputa laboral vs terrorismo
É um arco gigantesco aquele que abriga as hipóteses das autoridades: o massacre tanto pode ter sido motivado por uma “disputa laboral” entre colegas de trabalho como por objectivos ligados ao terrorismo (doméstico ou internacional, é uma destrinça a que ainda não se fez menção).

Meredith Davies, responsável do Departamento de Armas e Explosivos de San Bernardino, declarava horas após o ataque perante as câmaras de televisão que o casal “se tinha preparado para uma batalha”. O argumento de Davies discorreu no sentido em que eles possuíam “roupa táctica”, que dispunham de vários clips de munições consigo e que estavam fortemente armados.

Trata-se de uma lógica que pouco deveria valer nos Estados Unidos, a não ser que as autoridades estejam preparadas para considerar que milhões de americanos estão “preparados para a batalha”, dado o facto de a venda livre de armas permitir o armazenamento de autênticos arsenais pelo vizinho da casa ao lado.

No entanto, já esta tarde, o chefe do departamento policial de San Bernardino, Jarrod Burguan, fez eco desta tese, recusando a hipótese de se ter tratado de uma situação espontânea: “Teve de haver algum planeamento para que isto tenha acontecido. Não me parece que tenham ido a casa e colocado coletes à prova de bala só porque se lembraram”.

Burguan admite contudo não ter ainda sido encontrado “o motivo que esteve por detrás deste tiroteio”, a pior situação do género em solo norte-americano depois dos ataques a uma escola primária em Newtown, há três anos.

Esta é ainda uma situação que ocorre apenas uma semana depois de, num outro tiroteio, num centro de planeamento familiar do Colorado, um homem ter abatido três pessoas e ferido várias outras.
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