Turquia endurece o tom face à União Europeia

por Graça Andrade Ramos - RTP
Mevlut Cavusoglu, ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia David Mdzinarishvili - Reuters

A Turquia "está farta" do tom condescendente assumido pela União Europeia nas conversações de adesão ao bloco, afirmou o ministro turco dos Negócios Estrangeiros, Mevlut Cavusoglu, durante uma conferência de imprensa em Ancara e ao lado do seu homólogo alemão, Fran-Walter Steinmeier.

O responsável da diplomacia turca queixou-se também do facto de a Alemanha ter deportado para a Turquia apenas três membros do PKK - Partido dos Trabalhadores do Curdistão, que Ancara considera terrorista - apesar de 4,500 membros da organização estarem a ser investigados judicialmente pelas autoridades alemãs.

Cavusoglu referiu ainda que cabe ao povo turco decidir se a pena de morte irá ou não ser restaurada no país - uma questão que poderá ser o prego definitivo no processo de adesão da Turquia ao bloco europeu.

Frank-Walter Steinmeier, de visita a Ancara, exprimiu por seu lado preocupação alemã com as detenções em massa e o silenciamento dos media da oposição que têm marcado a vida política turca desde uma alegada tentativa de golpe de estado a 15 de julho de 2016.

Num diálogo aparentemente de surdos, Steinmeier afirmou que quer melhorar as relações com a Turquia e que se opõe à quebra das negociações de adesão do país à UE, considerando ainda a Turquia um parceiro crucial para deter o fluxo de imigrantes do Médio Oriente e de África para a Europa.

A Alemanha irá apoiar a Turquia na sua luta tanto contra o grupo extremista Estado Islâmico como contra o PKK, acrescentou Steinmeier.
Turquia aproxima-se da Rússia
Dando eco às palavras de Cavusoglu, o primeiro ministro turco, Binali Yildrim, afirmou num discurso aos deputados do seu partido, o AKP, que Bruxelas tem de decidir entre apoiar Ancara ou os seus inimigos e que não deveria esperar que a Turquia alterasse as suas leis anti-terroristas.

O discurso foi transmitido em direto na televisão estatal TRT Haber.

O primeiro-ministro turco aproveitou para informar os deputados de que forças rebeldes sírias apoiadas pela Turuiqa se preparam para o assalto final à cidade de el-Bab no norte da Síria, dominada pelo grupo Estado islâmico. Um combate que poderá implicar abrir uma nova frente, desta vez entre as forças turcas e as forças curdas sírias, as milícias YPG, que pretendem igualmente controlar al-Bab e impedir a influencia turca no norte da Síria.Ancara tem exprimido vontade de ampliar o seu território para áreas da Síria e do Iraque e parece estar a aproveitar o combate contra o Estado Islâmico para conseguir esse objetivo. A consegui-lo, irá tentar dominar as comunidades curdas em todas as frentes: turcas, iraquianas e sírias.

Yildrim anunciou igualmente uma visita à Rússia dias 5 e 6 de dezembro, durante a qual se irá reunir com o Presidente Vladirmir Putin.

A Turquia é um membro da NATO e apoia a coligação internacional que combate na Síria o Presidente Bashar al-Assad, mas tem-se vindo a reaproximar do país vizinho depois do esfriamento causado pelo abate há um ano de um caça russo que manobrava sobre a fonteira sírio-turca.

As relações entre a Turquia e a União Europeia têm estado tensas desde os incidentes de 15 de julho, com Ancara a queixar-se de falta de solidariedade de Bruxelas à sua luta contra os golpistas. Já a Europa receia que o Governo turco liderado pelo Presidente Recep Tayyip Erdogan esteja a usar o golpe para calar a oposição.
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