Uma em cada quatro mulheres toma antidepressivos

por Joana Tadeu, RTP
Hoje, tomam-se três vezes mais antidepressivos que há dez anos e-MagineArt.com/Flickr.com

Um estudo da Medco Health Solutions, uma distribuidora farmacêutica norte-americana, concluiu que quando se trata de sentir-se deprimido, ansioso ou desatento, as mulheres são mais propensas a tomar medicação do que os homens. O relatório afirma que uma em cada quatro mulheres nos EUA toma medicamentos prescritos por médicos para combater doenças do foro psicológico.

Um estudo, levado a cabo por uma das principais distribuidoras farmacêuticas do Estados Unidos da América, concluiu que uma em quatro mulheres daquele país estão a tomar antidepressivos receitados pelo médico. A Medco Health Solutions, explica que há mais mulheres a tratar sintomas de depressão, ansiedade e deficiências de atenção do que homens.Medco MediaRoom

O relatório analisou informação médica relativa a 2,5 milhões de americanos segurados entre 2001 e 2010, mostrando um forte aumento do número de receitas de medicamentos para doenças mentais, como pode ser observado no gráfico, que apresenta a percentagem da população dos EUA que toma medicação para a Saúde Mental, comparando dados de 2011 e 2010. A Medco explica, no seu relatório, que apesar de 29 por cento das mulheres tomarem antidepressivos, apenas 15 por cento dos homens o fazem. E quanto à prescrição de ansiolíticos, é duas vezes mais comum no sexo feminino.

Em 2010, nos EUA, 11 por cento das mulheres de meia idade tomavam um ansiolítico, enquanto apenas 5,7 por cento dos homens dessa idade o faziam. Também no tratamento da hiperatividade e dos défices de atenção se nota uma alteração a nível do género ao longo do tempo de vida: apesar da doença afectar principalmente os rapazes jovens, em idade adulta, são as mulheres que mais consomem medicamentos para estes distúrbios.

O uso de antipsicóticos atípicos - medicamentos que até há pouco tempo eram prescritos principalmente para a esquizofrenia - subiu dramaticamente. O número de adultos com idades entre os 20 e os 64 anos que tomam estes medicamentos é 3,5 vezes maior do que em 2001. E, embora o número de homens que toma estes medicamentos tenha subido drasticamente, continua a haver mais mulheres do que homens a fazê-lo.

As mulheres pedem ajuda mais facilmente
O Huffington Post entrevistou o Doutor David Muzina, o psiquiatra líder do Centro de Investigação para a Terapêutica na Neurociência, financiado pela Medco, sobre o estudo e as razões para os dados demonstrarem que há mais mulheres a serem medicadas para distúrbios mentais.

"Em geral, sabemos que as mulheres tendem a procurar tratamento e ir aos consultórios médicos com mais frequência que os homens. E também acreditamos que as mulheres podem correr mais riscos de sofrer transtornos depressivos maiores, por razões provavelmente biológicas", explica Muzina.

Sobre o aumento do consumo dos antipsicóticos atípicos, o psiquiatra explica que inicialmente entraram no mercado como tratamento para a esquizofrenia mas que "estudos posteriores demonstraram a sua eficácia no tratamento do transtorno bipolar e, mais recentemente, alguns têm sido estudados para o tratamento da depressão e receitados em casos mais graves".

"Vemos este aumento no uso de medicamentos e podemos concluir que é uma tendência ao longo do tempo. Reconhecemos que, particularmente na América, temos a tendência para adoptar correções rápidas", diz David Muzina ao Huffington Post. "Por isso, se há um comprimido para algo, que seja a abordagem mais fácil, mais rápida, vai ser mais utilizado do que os tradicionais tratamentos através da partilha de sentimentos e experiências ou da prática de exercícios", conclui.

Portugal é o país da Europa com a maior prevalência de doenças mentais na populaçãoO caso não se aplica apenas ao outro lado do Atlântico: a julgar pelos cálculos da Organização Mundial de Saúde (OMS), os antidepressivos serão, em pouco tempo, o medicamento mais vendido do planeta. A depressão afecta 121 milhões de pessoas no mundo. Contudo, apenas 25 por cento têm acesso a tratamento.

Quase metade da população mundial vive num país onde, em média, há um psiquiatra para cada 200 mil pessoas, mas a OMS alerta para o facto de apenas 36 por cento das pessoas que vivem em países em desenvolvimento estarem abrangidas por legislação para a saúde mental, enquanto a taxa correspondente para os países mais desenvolvidos é de 92 por cento.

As estimativas da organização para os próximos 20 anos preveem que a depressão será, em 2020, a segunda doença mais comum do mundo, ultrapassada apenas pelo enfarte do miocárdio. Mas, em 2030, apenas uma década depois, o transtorno psiquiátrico ocupará a primeira posição do ranking, à frente de outras doenças cada vez mais comuns, como o cancro e a sida.

No último inquérito sobre saúde mental, efectuado pelo Eurobarómetro a 26.800 pessoas nos 27 países da UE, 1032 das quais eram portuguesas, um em cada sete dos cidadãos nacionais entrevistados admitiu que usou antidepressivos nos últimos 12 meses, mais do dobro da média europeia.

Em Portugal, 23 por cento das pessoas sofreram de uma doença psiquiátrica no último ano e quase metade (43 por cento) já teve uma destas perturbações durante a vida. Estatisticamente, o país aproxima-se cada vez mais dos resultados obtidos nos EUA, onde há mais doentes com perturbações psicológicas e onde mais dinheiro é gasto na medicina para a saúde mental.
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