Que tal olhar para o futuro?

A discussão sobre os resultados dos atletas portugueses nos Jogos Olímpicos é um clássico de verão em todos os anos bissextos. O país que está a banhos e que acorda para a coisa de quatro em quatro anos, até porque estamos a falar dos jogos de verão, descobre que afinal temos atletas em modalidades que ninguém fazia ideia, fica desiludido porque os pobres não conseguiram as medalhas com que todos sonharam e que outros tão afanosamente prometeram na partida do aeroporto de Lisboa. Quanto a isto nenhuma surpresa. É assim desde que me lembro.

Tenho para mim que ninguém mais do que os atletas ficam desiludidos por não cumprirem os objectivos a que se propuseram, alguns deles dos melhores do mundo nas suas modalidades. Para muitos deles, um bom resultado nos olímpicos pode permitir melhorias das suas condições financeiras para os próximos quatro anos, seja através de um aumento das bolsas a que têm direito, seja na obtenção de patrocínios que os possam ajudar a ter melhores condições de trabalho no ciclo que se segue.

Sim, não se esqueçam que este é o trabalho da maior parte deles. No entanto, é preciso que também ninguém se esqueça que os objectivos dos nossos atletas são os mesmos dos outros mais de dez mil que foram ao Rio de Janeiro. Se os nossos não conseguiram é porque alguém foi melhor. Quanto a isto também não há muito a dizer nem a fazer.

Chegados a esta fase, muito mais importante do que discutir se os resultados foram bons ou maus, eu gostava muito mais de levantar outras questões. Por exemplo, gostava de saber quanto custa preparar uma equipa olímpica? Quanto custam os centro de alto rendimento onde alguns dos atletas vivem em permanência? Quanto custam os salários dos técnicos que com eles estão ao longo dos quatro anos do ciclo olímpico? Quanto custa e quem financia as viagens dos atletas e treinadores para competições e para treinos?

Gostava de saber isso tudo para depois poder fazer uma avaliação correta do assunto. Gostava ainda de saber quais os critérios para que um atleta seja apoiado e para que outro não seja? Sim, não os conheço porque não me parece que sejam claros. Em Espanha as federações com medalhas ganhas têm muito mais dinheiro do que as outras. É um critério objectivo. E por cá?

Por fim gostava de conhecer a estratégia que o país tem para o desporto. Se é que tem alguma. Gostava de saber como funciona o desporto escolar e quantos atletas chegam aos olímpicos tendo começado onde tudo deve começar? Ou seja, na escola. É que tenho em casa um filho de quinze anos que está no ensino secundário, onde as aulas de educação física se resumem a duas horas e um quarto por semana e onde a utilização de um pavilhão é escasso porque a escola, que fica numa capital de distrito, tem um pavilhão sem condições e a precisar de obras há trinta anos. Ainda era eu aluno no mesmo estabelecimento de ensino. É com estas condições que queremos produzir atletas de elite? Não me parece. É que se eu quero que ele pratique desporto - e pratica - tenho de pagar uma mensalidade num clube desportivo para que possa jogar andebol.

Mais do que criticar apoios ou a falta deles. Mais do que criticar atletas e as suas declarações. Mais do que ouvir queixas que tal parar para pensar um bocadinho e chegar à conclusão de que seria melhor fazer um plano de desenvolvimento do desporto em Portugal. Olhar para o futuro e perceber onde queremos estar daqui a doze anos, nos Jogos Olímpicos de 2028. Perceber o que é preciso fazer para lá chegar com qualidade e com exigência. É que se isso não acontecer, daqui a quatro anos, em Tóquio, vamos estar a ter a mesma discussão sobre se foi bom ou mau e confesso que é uma problemática para a qual já não tenho a mínima pachorra.

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