Conferência sobre o Saara ocidental opõe alunos e Faculdade na Universidade da Beira Interior

por Antena 1
ubi.pt; Reuters

O Núcleo de Estudantes de Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade da Beira Interior acusa o presidente da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas de colocar entraves à liberdade académica e liberdade de iniciativa.

Em causa está uma conferência sobre o Saara ocidental - território onde existe há anos uma luta pela autodeterminação e independência de Marrocos.

O Núcleo de estudantes tinha agendado a conferência para esta terça-feira, na Faculdade, mas o evento foi proibido pelo presidente da instituição depois de uma troca de emails com a embaixada marroquina em Portugal.

O presidente da Faculdade explicou à Antena 1 que a embaixada em momento algum pediu para que se proibisse a conferência, mas fez avisos sobre um dos participantes com um historial de condenação pela justiça marroquina, nomeadamente por crimes contra a Humanidade. Os avisos fizeram Pedro Guedes temer pela reputação da Faculdade e do curso, tendo, por isso, tomado a decisão de cancelar a conferência.

O receio de consequências para o bom nome da Faculdade e a falta de contraditório levaram ao cancelamento da conferência. Esses argumentos do presidente da Faculdade não são aceites pelo Núcleo de estudantes. João Vasco Batista entende, ao contrário do presidente da Faculdade, que este tipo de eventos não obriga a esse contraditório entre os participantes e convidados.

A situação naquele território tem merecido algum cuidado nas relações Internacionais. Já este ano, as Nações Unidas encerraram o seu gabinete de ligação militar em Dakhla, no Saara Ocidental, a pedido de Marrocos, e devido ao descontentamento gerado após o secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, se ter referido à "ocupação" do território disputado, durante a visita que realizou, em março, ao campo de refugiados de saharawis, na vizinha Argélia.

Esse é um exemplo do que pode surgir quando se trata o tema fora de portas marroquinas. Para o presidente da Faculdade, evita-se assim problemas maiores, apesar de entender que esta polémica não beneficia em nada o bom nome da Faculdade. Pior seria, diz Pedro Guedes, se o evento fosse em diante tal como estava previsto.

A conferência acabou por mudar de sítio e vai realizar-se numa sala disponibilizada pela Câmara Municipal da Covilhã.

Este conflito envolve Marrocos e a região do Saara Ocidental, uma antiga colónia espanhola rica em minerais, e data de novembro de 1975, depois da saída de Espanha. A Frente Polisário declarou a independência e tem mantido uma luta armada com as autoridades marroquinas que só foi interrompida com a mediação da ONU em 1991, embora o conflito não esteja sanado. Marrocos defende uma ampla autonomia na região do Saara ocidental.

 
c/ Célia de Sousa e Marcos Celso
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