Cyberbullying a crianças aumenta em Portugal

por Ana Sofia Rodrigues, RTP
Eric Gaillard, Reuters

A informação é revelada num estudo europeu que comparou dados de 2014 e 2010. Enquanto em 2010 apenas dois por cento dos inquiridos foram vítimas de cyberbullying, em 2014 os números apontam para os cinco por cento em crianças entre os nove e os 16 anos. São números da EU Kids Online/Net Children Go Mobile, que acompanham os dados de outros seis países europeus analisados. O Dia Europeu da Internet Mais Segura foi assinalado na terça-feira.

Em Portugal, Dinamarca, Itália, Irlanda, Roménia, Bélgica e Reino Unido, os dados mostram um aumento dos oito para os 12 por cento. O crescimento aconteceu sobretudo entre as raparigas, e entre o grupo mais jovem do estudo (nove aos dez anos).



Dos dados recolhidos, realce ainda para o crescimento de mensagens na internet como mensagem de ódio, mensagens pró-anorexia ou até mesmo de mensagens sobre dor autoimposta. Mensagens de cariz sexual diminuíram ligeiramente, tal como os contactos online com pessoas que as crianças não conhecem face-a-face.
  Os investigadores concluem que, apesar de se dizer que os níveis de risco das crianças estão a subir rapidamente, o que o estudo mostra é que o crescimento é moderado. Há tipos de risco que não aumentaram.
O estudo junta os dados de 2010 da EU Kids Online (financiado pela União Europeia e coordenado pela London School of Economics and Political Science) que entrevistou 25 mil europeus em 25 países, com os dados mais recentes, de 2014, da Net Children Go Mobile, que questionou 3.500 pessoas em sete países, na mesma faixa de idades que usam a internet (nove aos 16 anos), acrescentando um enfoque nos aparelhos móveis.
Maior “oportunidade” para aceder à net
Entre as conclusões do estudo aponta-se a ideia de que, possivelmente, os riscos aumentaram devido a uma maior “oportunidade”, ou seja, por haver uma maior possibilidade de as crianças acederem à net através de computadores portáteis ou dispositivos móveis, bem como uma melhoria nas capacidades de utilização da internet. Realidades que levam os mais jovens a maiores riscos.

Cerca de metade de todos os inquiridos entre os 11 e os 16 anos estiveram expostos a um ou mais dos dez riscos sobre os quais eram questionados. No total, a percentagem de crianças que foi ao encontro de pelo menos um fator de risco subiu dos 48 para os 52 por cento. O aumento ocorreu sobretudo entre raparigas e crianças mais novas.



Apesar de mais crianças acederem à web, o estudo conclui que a maioria não aproveita o tempo passado online para “subir a escada de oportunidades”, ou seja, para atividades que os beneficiem pessoalmente. As redes sociais, as mensagens instantâneas, os vídeos no YouTube ou jogos são as principais atividades. Mas o estudo também revela que há um ligeiro declínio na satisfação que retiram dos conteúdos online.

Um outro dado avançado por este estudo intitulado “Children’s online risks and opportunities”(Riscos e oportunidades das crianças online), é o do acesso que é feito em locais mais “privados”, neste caso, o quarto. Em 2010, metade dos inquiridos nunca usava a net no quarto. Em 2014 duas em cada três crianças confessam que, pelo menos semanalmente, acedem desta forma à internet. Mais crianças usam um computador portátil (46 por cento) ou um telemóvel (41 por cento) todos os dias.

Cristina Ponte é a coordenadora portuguesa do EU Kids Online. Refletindo os dados recolhidos em 2010, fala das principais preocupações que os números transportam.



Portabilidade é o desafio
Para Ricardo Valadas, inspetor da Polícia Judiciária na Diretoria de Faro, este é o grande desafio que se coloca quando se fala de internet, crianças e controlo parental.

“Há cinco ou seis anos, a questão colocava-se no computador de casa, que era partilhado. Agora, a portabilidade, os telemóveis, os tablets e a possibilidade de acederHá uma rede social que tem crescido em popularidade em Portugal, o Snapchat, em que as mensagens trocadas se autodestroem em alguns segundos, o que torna difícil algum controlo parental posterior, como acontece, por exemplo, no Facebook. à net em locais mais privados ou fora de casa, utilizando inclusivamente redes wi-fi gratuitas, coloca o problema noutra perspetiva” realça o inspetor que durante cerca de sete anos, até 2012, levou a cabo um programa no seio da PJ, chamado “Anjos com Guarda”, que realizava ações de sensibilização a professores e escolas.

O foco da atenção tem, por isso, de ser dirigido à educação das crianças para o uso seguro da internet. “Os filtros e controlo parental não são eficazes. Se não houver educação nesse sentido, não serão os filtros a mudar a situação”, assegura Ricardo Valadas.

Razões para a GNR lançar neste Dia Europeu da Internet Mais Segura uma campanha de sensibilização dirigida a jovens e, pela primeira vez, alargada aos pais. A GNR chama a atenção para dados que apontam para a existência em Portugal de 20 mil pessoas com sinais de dependência da internet, sobretudo jovens.
Até porque, na maioria das vezes, as crianças têm muitas vezes mais facilidade em usar a internet do que os próprios pais. As crianças são os chamados “nativos digitais”, fazendo jus ao que os comentários que ouvimos no dia-a-dia que dizem “parece que já nasceram ensinados”.

O estudo da EU Kids Online/Net Children Go Mobile mostra um dado interessante neste aspeto. Menos crianças no estudo se veem como “nativos digitais” comparados com os pais. A auto-confiança digital diminuiu entre as crianças com nove a dez anos e apenas dez por cento delas considera que têm mais capacidades online do que os pais.



Dois terços dos pais sugeriram formas para os filhos usarem a internet de forma segura, contam as crianças questionadas no estudo. Os pais preferem falar com os filhos, mais do que usar as opções tecnológicas de controlo parental. Mas os níveis de mediação parental não estão a aumentar, apesar da preocupação parental e esforços de sensibilização, conclui o estudo. 
“Ransomware” em crescimento
A Internet continua a ser um alvo potencial de criminalidade. De acordo com Ricardo Valadas, inspetor da Polícia Judiciária, crimes como a pornografia infantil continuam na ordem do dia. Mas há novidades no que toca às tendências dos crimes que aproveitam a Internet. As fraudes que usam os cartões de crédito para compras online aumentaram exponencialmente, num cenário transnacional que dificulta o combate a este fenómeno.

Uma das novidades é o crescimento do crime de Ransomware, ou seja, crimes envolvendo um “pedido de resgate”. Normalmente, os hackers entram no sistema de empresas, encriptam toda a informação que está disponível nos servidores e depois pedem dinheiro para que voltem a colocar esse conteúdo disponível. Pedidos de “resgate” que, em média se cifram nos 20 a 25 mil euros. Um crime que acaba por aproveitar o facto de muitas empresas terem muita da informação em servidores online e não terem um backup da informação, ou seja, não terem uma cópia de segurança.
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