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Apelo de Cavaco a governo maioritário irrita oposição

por Carlos Santos Neves - RTP
“É da maior importância que Portugal disponha de condições de estabilidade política e de governabilidade na próxima legislatura”, afirmou o Presidente na intervenção da noite de quarta-feira Miguel A. Lopes - Lusa

Ao fazer a apologia de um governo de maioria absoluta saído das próximas eleições legislativas, que acontecerão a 4 de outubro, o Presidente da República foi, no mínimo, extemporâneo e pode mesmo ter exorbitado o mandato - é assim que PS, PCP e BE reagem à comunicação que Cavaco Silva fez ao país na noite de quarta-feira. PSD e CDS-PP aplaudem.

É “desejável”, no entender do Presidente da República, que o governo a desenhar após as legislativas de 4 de outubro goze de um apoio “maioritário e consistente” no Parlamento.

“É da maior importância que Portugal disponha de condições de estabilidade política e de governabilidade na próxima legislatura. Sem elas será muito difícil alcançar a melhoria do bem-estar a que os nossos cidadãos justamente aspiram”, propugnou Cavaco Silva na intervenção em que anunciou a data das eleições.

Foi um “mau princípio”, na perspetiva de Ferro Rodrigues, que Cavaco tenha colocado “logo à partida os entendimentos entre os partidos como questão essencial”.

“É a altura de o povo falar por intermédio do voto e depois, de acordo com o voto popular, os partidos chegarem aos entendimentos necessários”, contrapôs o líder parlamentar dos socialistas.

Já o diretor de campanha Ascenso Simões, cabeça-de-lista socialista por Vila Real, preferiu colocar a tónica na meta, ao notar que as eleições ganharam “uma nova dimensão” com as palavras do Presidente. O PS, sustentou em declarações à agência Lusa, “é o único partido que pode consagrar uma maioria absoluta”.
“A mania”
“Os portugueses não se devem deixar condicionar”. A afirmação é do líder da bancada do PCP. Ouvido no Parlamento pela RTP, logo após a comunicação do Chefe de Estado, João Oliveira quis recuar ao historial de maiorias absolutas do pós-25 de Abril.Cavaco Silva, lançou o bloquista Pedro Filipe Soares, “não tem nenhuma tutela sobre a democracia nem deve defender uma democracia tutelada”.

“Os portugueses têm bem clara a experiência daquilo que foram as maiorias absolutas quer do primeiro-ministro Cavaco Silva, quer do primeiro-ministro José Sócrates, ou esta maioria absoluta de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, e o que maiorias absolutas na Assembleia da República significaram de prejuízo para as suas vidas e de prejuízo para o país”, reagiu o dirigente comunista.

Pedro Filipe Soares, o líder parlamentar do Bloco de Esquerda, lançou mão da esfera de poderes do Presidente da República. Para recordar que Cavaco Silva “não tem nenhum mandato para agora estar com a mania da maioria que quer impor ao país”.

“Quem tem a voz numas eleições é o povo que elege deputados, que depois vão eleger um governo, e esta é a sequência normal que tem de ser respeitada pelo Presidente da República”, enfatizou o deputado bloquista.

À semelhança de João Oliveira, Pedro Filipe Soares diria ainda que “as maiorias foram o maior fator de instabilidade do país” e “foram a maior garantia de que a voz das pessoas não era ouvida”.
“Juntos a votos”
Se entre as fileiras dos socialistas e à esquerda destes a hora é de incómodo, à direita o clima é de conforto. Nas palavras do líder parlamentar do PSD, é a coligação atualmente no poder que “oferece mais condições” para ir ao encontro das aspirações do Presidente.

“Tal como disse o senhor Presidente da República, nós também acreditamos que povo português pode, com a sua pronúncia, escolher uma solução que garanta estabilidade, que garanta governabilidade ao país, e nós queremos ser, os dois partidos, aqueles que estão em melhores condições de oferecer isso ao país”, respondeu Luís Montenegro.

Pelo CDS-PP falou Nuno Melo. Em linha com o parceiro da coligação, o vice-presidente do partido de Paulo Portas encontrou uma plataforma no discurso de Cavaco.

“A pensar na estabilidade de que o país precisa, na maioria que o senhor Presidente da República pede, decidiram os dois partidos celebrar uma coligação. É nesta coligação que vamos juntos a votos, a acreditar numa vitória que dará a estabilidade que nesta próxima legislatura Portugal certamente precisa e de que Portugal beneficiará”, afirmou.
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