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Luís Amado defende bloco central e critica busca dos partidos pelo poder

por Christopher Marques - RTP
Laszlo Balogh - Reuters

Luís Amado insiste que um governo de bloco central seria o melhor para Portugal. O ex-ministro de José Sócrates sublinha que ainda não há acordo à esquerda e diz que este é como "misturar água com azeite". Na Grande Entrevista da RTP, Amado critica os partidos e as suas lideranças pela "fulanização da política" e pelo condicionamento dos partidos para com os "objetivos de curto prazo". Isto é, pela busca do poder. O ex-ministro mostrou ainda simpatia para com o projeto de Marcelo Rebelo de Sousa.

O acordo de esquerda é ainda uma hipótese que pode não chegar a bom porto. Em entrevista à RTP, Luís Amado recorda que o acordo entre PS, Bloco de Esquerda e PCP não está ainda fechado e duvida que este se concretize.

Na Grande Entrevista, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros assume que esta não é a sua opção predileta.

“É difícil conciliar programas tão distantes em relação a matérias cruciais que foram identificadas como matérias críticas”, afirma. Apesar dos “passos significativos” nas negociações, Amado espera por um acordo palpável e conhecido.

“Esperarei até ao fim para ver que tipo de acordo é possível gizar com o PCP e o BE”, esclarece.

O presidente do Banif aguarda, sendo certo que um eventual acordo não será a sua proposta preferida. O ex-ministro considera que a melhor opção seria uma convergência entre o PSD e o PS.


“Um governo de grande coligação, de bloco central, que respondesse a problemas estruturais da economia portuguesa”. Para o ex-ministro de José Sócrates, Portugal não teria chamado a troika se essa convergência tivesse ocorrido em 2009 ou 2011.

“Não tenho dúvida nenhuma sobre isso. O país entraria num ciclo de crescimento muito mais rápido do que aquilo que tem tido”, afirma.
“Misturar água com azeite”
Para o presidente do Banif, o acordo à esquerda terá uma “consistência” que “não tem comparação com um bloco de duas forças que são pertencentes às duas grandes famílias europeias”. Para o ex-ministro, “é difícil gerar confiança e estabilidade” com um acordo à esquerda.

Amado sublinha que este é um acordo que junta uma força “europeísta” e “social-democrata”, com forças de linha “revolucionária”, “socialista, trotskista e comunista que têm um património histórico completamente diferente”.

“É um pouco misturar a água com o azeite”, exemplifica.

Para o ex-governante, se o PS, o PCP e o BE chegarem a um acordo “que garanta estabilidade governativa e os compromissos assumidos”, estar-se-ia a assistir a uma refundação do sistema político em Portugal.

“Entramos numa nova fase com consequências positivas ou negativas conforme a dinâmica do compromisso assumido for executado”.

Amado considera que o PCP “surpreendeu” por abrir a possibilidade a apoiar um executivo do PS, tal como o Bloco de Esquerda. “Em parte reflete a profunda desilusão que o processo político na Grécia provocou no Bloco de Esquerda”, explicita.
Amado como primeiro-ministro?
Em cima da mesa tem também estado a hipótese de Cavaco Silva indigitar um governo de iniciativa presidencial. Esta semana, Paulo Rangel avançou mesmo que o próprio Luís Amado poderia liderar um executivo deste tipo.


“Não faz nenhum sentido. Não vejo condições para haver um governo de iniciativa presidencial”, defendeu.

O economista considera que Cavaco não tem grande alternativa à indigitação de Costa caso haja acordo à esquerda. “A não ser que o acordo não satisfaça os requisitos que ele próprio colocou”.
Apoio a Marcelo?
Quanto ao futuro do PS, Amado admite que se identifica com algumas das ideias que têm sido defendidas por Francisco Assis. O ex-ministro de José Sócrates não diz se o apoiaria a uma corrida à liderança do PS, apontando que essa não se encontra atualmente em jogo.

Sobre as presidenciais, Amado afirma que não pensou ainda em quem vai apoiar. “São candidatos a mais”, desabafa, garantindo que não tem tido “disponibilidade de espírito” para o assunto e que também não tem afinidade com nenhum dos candidatos socialistas anunciados. Afinal, será Amado apoiante de Marcelo Rebelo de Sousa?


“Não diria isso nesses termos”, respondeu ao jornalista Vítor Gonçalves. No entanto, admite que tem “apreciado as posições de Marcelo”, sobretudo na “reserva” e "independência” face ao PSD. Amado diz ter boas relações pessoais com o professor.

O ex-ministro elogiou ainda o “sentido de Estado” com que Marcelo agiu durante o governo de António Guterres.
“Objetivos de poder”
Luis Amado considera que houve um afastamento entre o PS e o PSD face ao que acontecia antes. “Há um excesso de fulanização da vida pública e partidária. Há muita pessoalização das relações políticas”.

Para o ex-governante, há também muito “ressentimento” no tabuleiro político. Amado considera que os dois partidos se foram afastando em termos de ideais, apontando que o PSD se tornou muito mais liberal. Para Amado, falta centro em Portugal.

“A sociedade portuguesa divide-se entre o centro-esquerda e o centro-direita muito maioritariamente. Está hoje refém de pessoas extremadas e de uma dinâmica de radicalização e bipolarização excessivas".

As críticas aos partidos prosseguiram. Amado lamenta que os partidos estejam muito condicionados pelos “objetivos de curto prazo”, Isto é, pelo “poder”.

“Há muito condicionamento dos objetivos de curto prazo, de poder, que os partidos por si mesmo geram”. Amado considera que os líderes partidários têm tido responsabilidades nesta situação.

“As questões pessoais são o problema que mais negativamente tem marcado a política portuguesa”, critica.
“Horizonte de desintegração”

O presidente do Banif mostra-se ainda preocupado com a falta de capital existente em Portugal, que está a contribuir para a “hemorragia demográfica”. “Por não ter capital financeiro está a perder o único capital que tem que é o capital humano”, avisa.

O ex-governante alerta também que a Europa precisa de forças integradoras. “O projeto europeu está hoje sob uma enorme pressão desintegradora”. Amado aponta que é necessário que a busca pelo “progresso” e pela “melhoria da qualidade de vida” regresse à génese europeia.


“Vamos ter de federar um pouco mais. Integrar mais a Zona Euro, ao mesmo tempo que as forças de desintegração são tão violentas e agressivas”. Amado não tem mesmo dúvidas: “A Europa já esteve mais longe de um horizonte de desintegração”.

Sobre o Banif, instituição a que preside, Amado afirma que o banco vai apresentar resultados positivos este ano. Apesar das polémicas das recentes semanas, o presidente da instituição garante que o banco tem estado a fazer um “processo de reestruturação com muito sucesso”.
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